Entre salas, celas e vozes: relatos sobre formação escolar em prisões femininas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Ramos, Ellen Taline de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-25062019-150202/
Resumo: Este trabalho tem como objetivo compreender como se dá a escolarização nas prisões femininas do estado de São Paulo, bem como as percepções das alunas, das professoras e dos professores envolvidos neste processo. Ao longo do trabalho, são apresentadas discussões a respeito das estatísticas ligadas ao sistema penal, a história e organização das prisões tal como as conhecemos hoje, as especificidades de gênero e suas interfaces com o sistema prisional, a escola na prisão, seu surgimento e desenvolvimento, e como os teóricos da escola de Frankfurt contribuem para a compreensão da temática deste estudo. A coleta de dados desta tese foi realizada por meio de visitas a unidades femininas do estado e de entrevistas semiestruturadas com alunas, professoras e professores. Além disso, realizaram-se observações em sala de aula a fim de compreender a organização e o andamento das aulas. Após a transcrição literal das entrevistas, realizou-se a análise de conteúdo, que gerou quatro categorias. Os principais resultados encontrados foram de que, no encontro marginal entre professoras e professores precarizados e mulheres presas, há uma potência de humanizarem-se e também uma hipervalorização alienante (aluna ideal e melhores professores); além disso, uma das principais motivações para a volta à escola foi para que as mulheres presas sirvam de exemplo para seus descendentes, reproduzindo a perspectiva dos papéis social (im)postos às mulheres na sociedade. Viu-se também a escola como possibilidade, ainda que remota, de ascensão social. Neste ponto, discursos bastante idealizados surgiram. A última categoria analisada traz as precariedades das salas de aula nas prisões e a falta de suporte técnico e pedagógico para os docentes. Por fim, foi possível verificar as contradições do espaço que se pretende educativo dentro de uma instituição punitiva, sendo que esta última acaba por delinear todas as regras da escola, interferindo direta e indiretamente em seu cotidiano. Além disso, os encontros entre professoras/professores e alunas, ao mesmo tempo em que se mostra potente, se apresenta carregado de valores ideológicos e de alienação, o que contribui para a não ocorrência da formação cultural, propagando a semicultura. Desta forma, compreende-se que este trabalho de cunho histórico, político, social e de gênero atingiu o que se propôs, quanto a analisar seus objetivos e, sobretudo, olhar e dar voz ao socialmente invisível e inaudível. No entanto, diante do que se mostra como possibilidades futuras, é essencial que este não seja o fim desta discussão - o ponto final deste trabalho constitui-se apenas como uma lacuna provocante e instigante, para novos parágrafos, lutas e resistências