Percepções sociolinguísticas acerca da variação  subjuntivo/indicativo em São Luís e São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Santos, Wendel Silva dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-08062020-205446/
Resumo: Esta tese investiga os efeitos da morfologia do subjuntivo e do indicativo na percepção de quão competentes, sérios, formais e antipáticos soam ludovicenses e paulistanos. Para esses últimos, interessa também verificar se o modo verbal tem efeito em quão paulistanos eles soam, de acordo com ouvintes tanto de São Luís quanto de São Paulo. Considerando-se que, comparativamente a variáveis fonéticas, variáveis gramaticais (i) têm recebido menos atenção nos estudos de percepção e (ii) estariam menos disponíveis para avaliação social, (Labov, 1993; Labov et al, 2011), o interesse central desta tese é acessar os significados sociais (Eckert, 2012) que se associam aos modos subjuntivo e indicativo. Para tanto, lança mão dos pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista (Labov, 2006[1966]; 2001; 2008[1972]; Eckert, 2008; 2012). Empiricamente, justifica-se com base em afirmações populares: \"paulistanos não usam o subjuntivo\" e \"a variedade ludovicense é a melhor do português brasileiro\". Os estímulos (enunciados por 4 falantes dois ludovicenses e dois paulistanos) foram organizados de acordo com a técnica dos estímulos pareados (Lambert et al, 1960; Campbell-Kibler, 2006; 2009) e constituem- se de orações subordinadas no modo indicativo ou subjuntivo: adverbiais com embora ou talvez (como em \"embora estivesse/estava aqui, a oportunidade foi dada a outro candidato\" e \"talvez estivesse/estava no tempo de perguntar aos funcionários sobre sua satisfação no trabalho\") e substantivas introduzidas por querer ou acreditar (a exemplo de \"o chefe quer que a secretária permaneça/permanece na reunião\" e \"ele acredita que todos façam/fazem a sua parte\"). Embora e talvez foram os subordinadores mais recorrentes na amostra de fala paulistana e ludovicense analisada por Santos (2015). Além disso, sentenças com o verbo querer são as que mais aparecem nos metacomentários de que paulistanos estariam deixando de empregar o subjuntivo. O uso de acreditar nos estímulos se justifica pelo fato de que não há consenso sobre se esse verbo se complementa com a morfologia do subjuntivo ou do indicativo. Os resultados das análises de regressão linear (R Core Team, 2019) mostram que os falantes foram percebidos como mais competentes quando ouvidos nos seus disfarces com formas subjuntivas, tanto por ouvintes paulistanos quanto ludovicenses. Os falantes ludovicenses foram percebidos como mais sérios e formais do que os paulistanos. Os falantes também foram, no geral, percebidos como mais antipáticos no subjuntivo. No que toca a paulistanidade, Os falantes paulistanos foram ouvidos como mais paulistanos, no subjuntivo, pelos ouvintes ludovicenses o que se pode explicar pela percepção de que paulistanos têm mais acesso a bens de cultura que pessoas de outras regiões do país; porém, esses mesmos falantes foram avaliados, pelos ouvintes paulistanos, como pessoas que soam mais paulistanas no indicativo, o que sugere que esses ouvintes se reconhecem no uso desse modo verbal, embora não apresentem comentários metalinguísticos nesse sentido. Por fim, os falantes foram avaliados pelos paulistanos como pessoas que têm nível superior, independentemente do disfarce (subjuntivo ou indicativo); por outro lado, pelos ouvintes ludovicenses eles foram avaliados (i) como pessoas de escolaridade mediana, quando ouvidos em seus disfarces com o indicativo. Esses resultados sugerem que a percepção dessas formas é socialmente estratificada em São Luís, mas não em São Paulo. Ao mostrar que formas subjuntivas e indicativas têm efeito em como são percebidos falantes de São Luís e de São Paulo (ou seja, ao mostrar que há diferenças na significação social dessas formas nessas duas comunidades), essa tese amplia o ainda restrito conjunto de pesquisas que busca acessar os significados sociais de variáveis gramaticais.