Violências e formas de representação: estudo comparado entre romances e museus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Valle, Ana Luiza Rocha do
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-22072021-132152/
Resumo: No âmbito dos Estudos Comparatistas de Literatura, mais especificamente no cruzamento entre os Estudos Literários e a Museologia, esta tese investiga dois romances e dois museus, com ênfase nas exposições de longa duração destes últimos. Os romances são Tudo o que tenho levo comigo, de Herta Müller (2011) e O Museu da Inocência, de Orhan Pamuk (2011). Somam-se a eles o Museu da Inocência, fundado pelo autor do romance homônimo em Istambul, e o Museu Sighet, na cidade romena de Sighetu Marmatiei. O principal ponto que todos os elementos do corpus de análise têm em comum é o fato de que representam violências - o que é mais evidente em alguns do que em outros. As formas pelas quais essas diferentes violências são representadas, suas relações com os objetos e as implicações dessas escolhas formais estão no centro das análises. Foram traçadas comparações entre museus e romances, entre romances e entre museus. O estudo abarca, entre suas questões centrais, as relações entre realidade e ficção, entre forma e processo social, entre gêneros literários e as questões éticas e limites relativos à representação das violências - sobretudo as extremas. Uma referência central para a análise da obra de Pamuk foram os estudos de Schwarz (1990, 1997) sobre Machado de Assis - principalmente no que diz respeito aos narradores machadianos e à sedimentação de conteúdos sociais na forma literária. Para analisar Herta Müller, congregamos uma série de referências a respeito da imagem poética, com destaque para os trabalhos de Andrade (1997), Candido (2004) e Moura (2016). O conceito freudiano (1996) de \"devaneio\" foi empregado na leitura das imagens de Müller. São também centrais os estudos de Jurgenson (2003), Bernier (2013) e Didi-Huberman (2020) a respeito da literatura concentracionária e das relações entre ficção e testemunho. Para as análises museológicas, além dos estudos específicos sobre cada um dos museus, destacamos Mesnard (2012), Bechtel e Jurgenson (2016). Entre nossas conclusões principais está a constatação de que o romance O Museu da Inocência e o museu homônimo representam violências, ainda que o primeiro as camufle e o segundo as banalize por meio da estetização. Em Müller, pelo contrário, o trabalho estético (com as formas) não banaliza o horror, mas potencializa a representação dele e do sofrimento decorrente. O acesso à subjetividade do indivíduo que sofre diferencia o texto mülleriano tanto do romance e do museu turcos quanto do Museu Sighet. Neste, por meio de um grande volume de informações, centram-se os esforços em convencer o visitante da importância do anticomunismo, mais do que em transmitir a ele as experiências das vítimas dos regimes stalinistas da Romênia. Demonstramos, por meio das diversas comparações, a relevância da colaboração entre os Estudos Literários e a Museologia para a pesquisa nos dois campos. Defendemos que a aproximação se faça cada vez mais constante, não só no âmbito dos estudos teóricos e críticos, mas também de forma aplicada na formação das equipes museais.