Precarização da organização do trabalho: vivências de prazer e sofrimento no cultivo do fumo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Castro, Laura Silva Peixoto de
Orientador(a): Monteiro, Janine Kieling
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Departamento: Escola de Saúde
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/3012
Resumo: Alguns fatores contribuem significativamente para a precarização da organização do trabalho na fumicultura, destacando-se: a exploração do produtor de tabaco pela empresa fumageira; a desproteção social destes trabalhadores pelo Estado; a intensificação do trabalho em consonância com a lógica de acumulação de capital, colocando em risco a saúde dos profissionais; a proposta de diminuição do plantio e do consumo do tabaco em todo território nacional. Resistindo a estas adversidades, os produtores de fumo procuram sobreviver em um cenário econômico que não lhes é favorável. Esta pesquisa objetivou conhecer a percepção destes profissionais acerca do reflexo da organização do trabalho sobre suas vivências de prazer e sofrimento no trabalho. Participaram desta investigação 15 fumicultores, homens e mulheres que desenvolvem o cultivo do fumo como sua principal fonte de renda. Todos os participantes são munícipes de Dom Feliciano/RS, cidade referência nacional no cultivo do tabaco. A pesquisa foi desenvolvida conforme o método exploratório descritivo, a partir de uma perspectiva qualitativa, sendo o instrumento de pesquisa empregado a técnica de grupos focais. Um roteiro de questões norteadoras, elaborado de acordo com os pressupostos teóricos da Psicodinâmica do Trabalho e com a revisão bibliográfica sobre o tema, auxiliou a pesquisadora na condução dos encontros. Para a análise interpretativa, optou-se pelo modelo misto proposto por Bardin, tendo sido estabelecidas categorias a priori e a posteriori, estas para contemplar, inclusive, os conteúdos inéditos emergidos nos grupos. Esta Dissertação apresenta e discute, em dois artigos empíricos, os resultados obtidos nesta pesquisa. A primeira sessão expõe o artigo intitulado “O fumicultor adverte: a causa do seu sofrimento é o homem, não o fumo”, tendo como principais achados o sofrimento experimentado pelos fumicultores em decorrência da organização alienante do trabalho e da ansiedade destes profissionais frente à ameaça do desemprego em massa, obrigando-os a considerar alternativas de fonte de renda, como a diversificação rural, o que, ao seu julgo, não lhes favorece. Os produtores de fumo retratam a situação que o Homem os coloca, sendo este representado, em sua ótica: pelas empresas fumageiras, pelo Estado, e pelos próprios fumicultores, que não mobilizam-se de forma efetiva para impedir a injustiça social que acomete sua classe profissional. Na segunda sessão, apresenta-se o artigo intitulado “Não adoece só quem fuma, mas também quem planta”. Este aponta que o desprazer e o sofrimento são vivenciados diariamente pelos fumicultores e pouca menção se faz ao prazer no trabalho e aos raros momentos de lazer. O sofrimento e o adoecimento são decorrentes da precarização das condições de trabalho, causados, principalmente, pela intensificação deste. Entretanto, é comum o fumicultor se culpabilizar pelos agravos a sua saúde, admitindo cometer excessos e não tomar as precauções necessárias para evitar o adoecimento. O entendimento destes trabalhadores, acerca das consequências da exploração de que são vítimas, é limitado. Estes agricultores não compreendem que os “erros” e “exageros” que percebem cometer, são reflexos de uma organização do trabalho alienante. Almeja-se, com esta investigação: atentar para a importância da participação efetiva dos fumicultores nos espaços públicos de discussão sobre a proposta de diversificação rural; esclarecer a relação de dominação entre os fumicultores e as empresas fumageiras; contextualizar a emergência da intervenção do Estado para garantir os direitos à saúde e previdenciários dos trabalhadores rurais; possibilitar aos profissionais de saúde mental, conhecer a perspectiva dos fumicultores quanto ao seu sofrimento e adoecimento, favorecendo o entendimento de que os agravos que acometem estes agricultores, não devem ser resumidos a uma descrição de sintomas ou diagnósticos, mas prevenidos, problematizados como um problema social que exige a interlocução de diversas áreas do conhecimento.