Substâncias psicoativas no trânsito : estudo sobre fatores de risco e tecnologias de detecção in loco

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Scherer, Juliana Nichterwitz
Orientador(a): Pechansky, Flavio
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/158226
Resumo: O impacto do uso do álcool na condução de veículos automotores foi primeiramente evidenciado concomitantemente ao surgimento dos primeiros automóveis. Desde então, diversos estudos foram realizados a fim de identificar a relação entre o uso de álcool e a capacidade psicomotora de motoristas. Atualmente, já está bem estabelecido que dirigir veículos sob o efeito de álcool aumenta o risco de colisões no trânsito. Por outro lado, dados sobre o impacto de outras substâncias psicoativas (SPAs) além do álcool ainda são escassos na literatura, mesmo com o crescente relato de motoristas envolvidos em colisões no trânsito que testaram positivo para SPAs. No Brasil, poucos estudos foram realizados visando à detecção de SPAs no trânsito - porém, mesmo com poucos dados, já foi possível observar uma alta prevalência de uso de SPAs pelos condutores. Além disso, estudos internacionais apontam que condutores que dirigem sob o efeito de álcool e de outras SPAs possuem características específicas, como por exemplo, alto índice de recidiva e alta prevalência de transtornos pelo uso de substâncias. Apesar de o Brasil possuir legislação que proíba motoristas de dirigir sob o efeito de álcool e também outras SPAs, contamos apenas com o uso de etilômetros para a mensuração do uso de álcool como medida efetiva na testagem de motoristas em barreiras de fiscalização, sem nenhum dispositivo aprovado para SPAs. Assim, o objetivo desta tese foi investigar fatores de risco para colisões no trânsito envolvendo o uso de SPAs e avaliar dispositivos de detecção de SPAs que possam ser implementados na fiscalização de condutores brasileiros. O artigo 1 da presente tese é uma análise de dados secundários provenientes de um estudo multicêntrico que avaliou 765 usuários de crack, e teve como objetivo estimar a prevalência de dirigir sob o efeito de SPAs e de colisões no trânsito na amostra, analisando se questões psiquiátricas e padrão de uso de SPAs estão relacionadas ao histórico de acidentalidade. O artigo 2 compreende uma revisão sistemática da literatura sobre a confiabilidade de dispositivos de triagem para a detecção de SPAs utilizando urina ou fluido oral como matrizes biológicas. O artigo 3 é uma avaliação de dois dispositivos de triagem para a detecção de cocaínicos, utilizando amostras de fluido oral doadas por usuários de cocaína ou crack recrutados em centros de atendimento para transtorno pelo uso de substâncias na cidade de Porto Alegre. Como resultados principais, encontrou-se uma alta prevalência de usuários de crack que relataram ter dirigido sob o efeito de SPAs e também uma alta prevalência do relato de colisões no trânsito após o uso de crack. Além disso, o uso de crack por mais de cinco anos - independente de comorbidades psiquiátricas ou consumo de outras SPAs - foi o único fator associado à maior prevalência de histórico de acidentalidade (RR=1.52, 95%IC: 1.02-2.75). De forma geral, os dispositivos de triagem avaliados pela revisão sistemática mostraram uma alta variabilidade nos dados de confiabilidade (sensibilidade, especificidade e acurácia), tanto para dispositivos de urina quanto para dispositivos de fluido oral. Especificamente, o dispositivo DDS2TM atingiu resultados superiores ao recomendado para os critérios de confiabilidade (>80%) para a análise de benzoilecgonina no ponto de corte de 10 ng/mL. Já o dispositivo Multi-Drugs Multi-Line – Twist Screen Test Device™ não atingiu esses parâmetros de forma concomitante para nenhuma das análises realizadas. Os resultados do presente trabalho sugerem que a população de usuários de crack é uma população de risco para colisões no trânsito. Além do uso prolongado de crack (que foi estatisticamente associado ao desfecho de histórico de acidentalidade), outros fatores, como o uso de múltiplas substâncias, prejuízo cognitivo e altos índices de impulsividade também podem estar indiretamente associados ao aumento do risco de colisões no trânsito nessa população. Devido à alta variabilidade dos resultados de confiabilidade dos dispositivos de triagem encontrados na literatura, e devido ao fato de que o uso desses dispositivos frequentemente implica em questões legais e morais dos sujeitos testados, aconselha-se que os dispositivos sejam avaliados quanto as suas capacidades analíticas e características práticas antes de serem implementados em qualquer contexto. Especificamente para a detecção de cocaínicos, o dispositivo DDS2TM apresentou melhores resultados quando comparado ao dispositivo MDMLTM. Entretanto, principalmente devido à alta prevalência de resultados falsos positivos, ressalta-se a importância da realização de testes confirmatórios sempre que a realização de testes de triagem tiverem finalidades forenses, como no caso do uso para fiscalização de trânsito.