Ruptura do ritmo circadiano de temperatura corporal como um marcador alternativo de gravidade dos sintomas depressivos e incapacidade em mulheres com fibromialgia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Tocchetto, Betina Franceschini
Orientador(a): Caumo, Wolnei
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/218951
Resumo: Introdução: A fibromialgia (FM) é uma síndrome que se caracteriza por dor musculoesquelética generalizada, fadiga, sono não reparador, alterações cognitivas, sintomas depressivos e outros correlatos de disfunção autonômica. Evidências indicam que, em pacientes fibromiálgicas e depressivas, ocorre uma ruptura no ritmo de secreção de melatonina, sendo que seu principal metabólito (6-sulfatoximelatonina) apresenta alta carga secretória no período diurno (6-18h). Esses dados podem expressar a dessincronização dos ritmos biológicos internos. Existem sintomas compartilhados pela FM e pelo Transtorno Depressivo Maior (TDM) relacionados a alterações nos ritmos circadianos, como a má qualidade do sono e a fadiga. Todavia, a TDM é uma comorbidade com prevalência de 4,3 vezes maior na FM do que na população geral. Dessa forma, faz-se importante investigar a relação de uma possível cronoruptura dos ritmos circadianos com a gravidade dos sintomas depressivos. O ritmo de temperatura corporal é considerado um marcador robusto e estável para avaliação da sincronização do sistema circadiano e pode ser aferido através da medição da temperatura corporal periférica, que é um método confiável e não invasivo. Evidências sugerem que esse parâmetro circadiano está alterado em indivíduos com depressão. No entanto, ainda é escassa a literatura sobre a utilização da curva da temperatura corporal periférica como marcador de ruptura circadiana que pode se vincular à gravidade dos sintomas depressivos e sintomas correlatos da fibromialgia. Objetivo: Avaliar a associação entre ritmo de temperatura corporal periférica e a gravidade de sintomas depressivos como marcador relacionado à gravidade dos sintomas na fibromialgia. Métodos: Estudo transversal exploratório. Foram incluídas mulheres entre 30 e 65 anos de idade, alfabetizadas e com diagnóstico confirmado de FM de acordo com os critérios do Colégio Americano de Reumatologia (2010-2016). Para avaliação dos sintomas depressivos, foi utilizada a Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM-D). Para a análise, a amostra foi classificada em dois grupos: sintomas depressivos leves (escore ≤17) e sintomas depressivos moderados a graves (escore >17). Foram utilizados instrumentos para avaliação dos níveis de dor, qualidade de sono, sensibilização central e actimetria para avaliar o ritmo de temperatura corporal periférica. Resultados: Não foi observada diferença na amplitude da temperatura de 24h entre os grupos (p=0,079). No entanto, foi identificada diferença entre o mesor da temperatura de 24h, sendo maior no grupo de FM com sintomas depressivos moderados a intensos (p=0,013). O modelo de Equações de Estimativas Generalizadas (GEE) revelou uma diferença na temperatura corporal periférica considerando separadamente os quatro períodos do ciclo de 24 h (06:00-12:00, 12:00- 18:00, 18:00-24:00, 24-06:00) (χ2= 292.14, DF=3; p<0,001). Essa diferença persistiu mesmo quando examinada a relação entre os períodos no ciclo de 24 h de acordo com a gravidade de sintomas depressivos (χ2= 337.79, DF=7; p<0,001). Pacientes fibromiálgicas com sintomas depressivos moderados a intensos apresentaram maior temperatura corporal no período da noite (18:00-24:00) (p=0,02). A temperatura do período da noite foi positivamente correlacionada aos níveis de incapacidade devido à dor e com os níveis de sensibilização central. Conclusão: Nossos resultados sugerem que a ruptura do ritmo circadiano da temperatura corporal periférica de acordo com a gravidade dos sintomas depressivos pode ser um marcador biológico relacionado à gravidade dos sintomas clínicos em mulheres com fibromialgia. Pode ser considerado um marcador acessível que nos ajuda a compreender a relação entre os sintomas clínicos e a ruptura circadiana endógena. Além disso, em futuros estudos clínicos, ele pode ser útil para avaliar se os efeitos terapêuticos do tratamento da depressão estão relacionados com uma possível ressincronização desses sistemas.