Alterações de volumes corticais e subcorticais em usuários de crack

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Schuch, Silvia Bassani
Orientador(a): Diemen, Lisia von
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/179048
Resumo: Introdução: O consumo de crack tem sido alvo de grande preocupação, em função de sua expansão em várias regiões, além do aumento da prevalência do seu consumo nas últimas décadas, especialmente no Brasil. Os resultados de pesquisa em neuroimagem nesse campo são sobre alterações do uso de cocaína, substância semelhante ao crack, mas este possui diversas particularidades que, clinicamente, o tornam potencialmente mais agressivo e danoso ao organismo. Não se sabe se tais semelhanças também são compartilhadas no que diz respeito a modificações de volumes cerebrais. Os transtornos aditivos, de modo geral, afetam o sistema de recompensa, mas também circuitos cerebrais envolvidos com condicionamento, motivação e função executiva (controle inibitório, atribuição de valores e tomada de decisão). As drogas representam um complexo estressor para o organismo. À medida em que o uso ocasional se torna abusivo e crônico, há recrutamento duradouro dos mecanismos regulatórios do cérebro, modificando eixos fisiológicos de homeostase. Em 2011, Volkow et al propuseram um modelo de alteração do neurocircuito cerebral em um cérebro adicto em comparação com o funcionamento de um cérebro não-adicto. O objetivo desta tese foi investigar as alterações de volume cerebral, corticais e subcorticais, em usuários de crack, bem como avaliar a associação destes achados com o modelo de três estágios proposto por Volkow e Koob. Método: estudo de caso-controle, com amostra de 15 usuários de crack e 15 controles saudáveis, pareados por gênero, idade, escolaridade e lateralidade, recrutados na Unidade de Adição da Unidade Álvaro Alvim do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Realizaram exame de Ressonância Magnética Nuclear após pelo menos 15 dias de desintoxicação. Foram excluídas comorbidades neurológicas, inflamatórias, cardiovasculares ou 8 sistêmicas. Os volumes das estruturas corticais e subcorticais foram determinados usando o programa Freesurfer v5.3. Resultados: Artigo 1. Os dois grupos (casos e controles) não diferiram em relação à idade, gênero (todos os indivíduos eram do sexo masculino), educação, estado civil e ocupação principal. Todas as variáveis na amostra tiveram distribuição normal. Os usuários de crack tiveram menores volumes no núcleo accumbens esquerdo (t = 3,604, df = 28, p = 0,001) em relação aos pacientes. Os volumes do núcleo accumbens direito também foram menores nos pacientes e apresentaram diferenças significativas entre os grupos (t = 2,098, df = 28, p = 0,045). Os grupos não diferiram em relação aos volumes intracranianos (p = 0,514). Artigo 2. Os pacientes tiveram volumes de amígdala menores do que os controles, (F (1,28) = 5,885, p = 0,023). O córtex pré-frontal dorsolateral (dLPFC) também foi menor entre os usuários de crack quando comparado aos controles (F (1,28) = 5,447, p = 0,027). Não houve diferença entre os volumes do córtex orbitofrontal (F (1,28) = 2,917, p = 0,100) e ínsula (F (1,28) = 2,815, p = 0,105) entre os grupos. Houve uma tendência à significância entre os grupos no córtex cingulado Anterior (F (1,28) = 3,992, p = 0,056) e hipocampo (F (1,28) = 3,535, p = 0,071). Entre os casos, todos os volumes estudados não se correlacionaram com variáveis clínicas de gravidade (anos de dependência de crack, idade de primeiro uso, número diário de pedras de crack , e duração da abstinência). Os grupos não diferiram em relação à idade, educação, estado civil e ocupação. Todos eram homens e destros. Conclusões: Os resultados deste trabalho mostram que a população de usuários de crack possui volumes cerebrais reduzidos em regiões corticais e subcorticais. Estas regiões estão implicadas nos sistemas de recompensa, de motivação, de funções executivas e memória, e estão de acordo com os estágios propostos por Volkow e Koob e com as teorias de neuroprogressão das adições. Desta forma, tais achados podem auxiliar na compreensão da fisiopatologia do Transtorno por Uso de Crack e corroboram os déficits cognitivos já evidenciados clinicamente nesta população. Entretanto, ressalta-se a importância de estudos longitudinais com o objetivo de avaliar a causalidade e reversibilidade destas alterações, a fim de nortear futuras intervenções terapêuticas em um grupo tão complexo e grave.