| Resumo: |
INTRODUÇÃO: A pandemia da COVID-19 impactou a vida e o trabalho dos trabalhadores de saúde bucal dos setores público e privado. A atividade de saúde bucal foi exposta a um cenário desafiador, exigindo o estabelecimento de protocolos de biossegurança e a produção de evidências para orientar as práticas. A insegurança no trabalho, diante da pandemia, atuou na saúde mental de cirurgiões-dentistas. OBJETIVO: Analisar o processo de trabalho de Cirurgiões-Dentistas vinculados a setores públicos e privados no contexto da pandemia da COVID-19, em um município da região metropolitana de Porto Alegre/RS. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo de caso único integrado com múltiplas unidades de análise e abordagem qualitativa. Os participantes do estudo foram 11 cirurgiões-dentistas, que atuaram durante a pandemia e permaneciam em atividade no momento do estudo, nos setores público (04), privado (04) e ambos (03). As práticas discursivas analisadas foram produzidas por meio de entrevistas guiadas por um roteiro abordando categorias da vida e do trabalho no contexto social da pandemia da COVID-19. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados apontam como os cirurgiões-dentistas se organizaram frente às mudanças dos protocolos de biossegurança impostos pela realidade da pandemia da COVID-19. Houve preocupação em relação aos cuidados de biossegurança, intensificou-se a utilização de equipamentos de proteção individuais assim como cuidados aumentados com a descontaminação do consultório odontológico e adjacências. A busca de informações e protocolos de cuidado com a COVID-19 se deu por sites oficiais, artigos científicos, mas também por redes sociais e discussão entre pares. Pôde-se identificar que a infodemia esteve presente, as fake news perpassaram alguns discursos interferindo em análises do cenário da pandemia. Alguns entrevistados relataram piora da saúde mental no período da pandemia, principalmente pelo medo de contaminação pela doença, mas também pela infodemia e pelas relações interprofissionais em que os entendimentos acerca da doença e seus cuidados por vezes resultaram em algum conflito entre trabalhadores. A redução dos atendimentos eletivos resultou em aproveitamento do cirurgião-dentista em outras atividades no serviço público, resultando em aproximação das equipes de saúde bucal com os demais trabalhadores das unidades de saúde e de setores da secretaria de saúde como a vigilância epidemiológica. Houve relato de mudança nas demandas dos consultórios e baixa procura por tratamentos eletivos relatada também por trabalhadores do setor privado. Sobre incorporação tecnológica no processo discorreu-se sobre a teleodontologia e a possibilidade de sua inserção no processo de trabalho. Houve impacto financeiro relatado pelos trabalhadores com consultório odontológico privado, pela redução da demanda e aumento dos custos; estes pouco repassados nos valores de consultas e procedimentos. No serviço público, foi sentida também a baixa qualidade na aquisição de alguns equipamentos de proteção individuais e a observação do aumento do custo da prefeitura na aquisição dos materiais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pode-se afirmar que as práticas discursivas permearam categorias de precarização no trabalho do cirurgião dentista (direitos trabalhistas, insegurança e renda, processo de trabalho e condições de vida e de adoecer no trabalho). A busca por informações e a tradução dela no cotidiano do trabalhador de saúde bucal gerou ansiedade e conflitos nos espaços de vida e de trabalho, também desenvolveu uma prática mais segura e acompanhar a evolução do trabalhador de saúde bucal pode ajudar na reflexão de como a odontologia se reinventa a partir da crise vivida. Esse estudo tem como produto final o artigo intitulado “Atividade de trabalhadores de saúde bucal no contexto da pandemia da COVID-19”. |
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