Vivendo nas margens da “terra da soja” : narrativas não hegemônicas frente às investidas produtivas e socioculturais homogeneizantes no município de Capão do Cipó/RS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Ferreira, Eduarda Garcia
Orientador(a): Marques, Pâmela Marconatto
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/271871
Resumo: Esta dissertação dedica-se a abordar as narrativas não hegemônicas frente às investidas produtivas e socioculturais homogeneizantes no município de Capão do Cipó/RS, reconhecido cotidianamente como a “terra da soja”. Assumindo meu lugar nas margens sociais e adotando a corporificação em um saber científico situado adoto como objetivo geral a descrição de perspectivas não hegemônicas diante da consolidação da soja no município de Capão do Cipó, na região das missões do estado do Rio Grande do Sul, a partir do reconhecimento de outros modos de vida e da descrição de conflitos, estratégias, narrativas e resistências. Apostando em uma abordagem qualitativa, usufrui de uma perspectiva teórico-metodológica onde os encontros com as(os) interlocutoras(es) e com a paisagem são priorizados para aprender a pensar junto com eles(as) sobre o território, através de uma perspectiva autoetnográfica. A técnica de entrevista aberta em profundidade, o diário de campo físico, a “observação participante”, os registros fotográficos, as fotografias antigas, o bordado livre em fotografias, os “poemas” e os mapas confeccionados compõem o arcabouço de instrumentos da pesquisa. Levantou-se que a chegada dos colonizadores, a distribuição de sesmarias, a escravização, a instalação de novos modos de cultivar a terra e a introdução da soja contribuíram para a concentração de terras, a desigualdade na distribuição de terras e as relações de trabalho baseadas na exploração. Desde a “observação participante”, foi possível vislumbrar que as narrativas desenvolvimentistas e homogeneizantes do ponto de vista sociocultural e produtivo estão presentes no cotidiano do município, criando um panorama que legitima violências discursivas como a ocorrida no aniversário de 22 anos do município, contudo, nessa situação, se desvelou a resistência de assentadas(os) contra a necropolítica instituída. A partir da entrevista com Débora, foi possível colocar em evidência o choque entre o que podemos chamar de dois mundos, marcando um conflito ontológico, existencial. Mais do que isso, foi possível entender que mesmo no novo cenário duramente instituído no território onde cresceu, a homogeneização não foi completa, deixou brechas, respiros, vidas humanas e não humanas que não cederam às pressões do extrativismo predatório da soja. Geraldo, contribuiu para entender a estigmatização contra as(os) assentadas(os) e sobre como foi a chegada e instalação delas(es) em Capão do Cipó, trazendo à tona a complexidade que envolve a adoção da produção da commodity agrícola nos assentamentos. O encontro com o Sr. Aguinelo possibilitou apresentar sua história através de fotografias antigas que fazem parte de seu acervo pessoal, apostando nelas como um recurso de narrativa imagética que retrata mudanças na paisagem, nas relações sociais, nas vestimentas, na agricultura e pecuária, dentre outras. Como considerações finais, saliento que ao abarcar as narrativas não hegemônicas, busquei explorar o potencial delas de desafiar e questionar as narrativas dominantes, abrindo espaço para a criação de novas perspectivas que poderão construir soluções coletivas e integradas frente às consequências de um modo insustentável de habitar o território. Por esse ângulo, estabelecer laços e ampliar diálogos com outros grupos sociais às margens na “terra da soja” é uma tarefa necessária e não exaurida neste trabalho.