Seara de desencontros : a produção do ensino na universidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1990
Autor(a) principal: Morosini, Marília Costa
Orientador(a): Franco, Maria Estela Dal Pai
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/181061
Resumo: Este estudo visa compreender a produção do ensino de graduação pela via das decisões decorrentes de normatizações oriundas da reforma universitária de 1968, e consubstanciada no ensino superior brasileiro especificamente numa universidade publica, pela relação, a nível acadêmico, entre a instância da formalização - a dos colegiados acadêmicos - e a instância da liberdade acadêmica - a dos professores com docência em sala de aula - a partir da representação de professores que nelas participam. A compreensão da produção do ensino de graduação hoje foi iluminada pelo resgate da trajetória histórico-social desta relação efetivada no ensino superior brasileiro e na universidade, em suas imbricações com a sociedade e teve como fontes instrumentos normativos de maior repercussão nacional e institucional, de 1808 até nossos dias, contrastados, na medida do possível, com registros de ocorrências. A análise histórica demonstrou que a relação entre as instâncias acadêmicas é tênue, embora formalmente articulada, oscilando entre um controle acadêmico-burocrático altamente especificado nas questões adjetivas do ensino, e uma liberdade nebulosa nas questões substantivas do ensino. A compreensão da produção do ensino hoje teve como fundamentos entrevistas com professores partícipes das instâncias acadêmicas de graduação da UFRGS, ou seja, a instância dos colegiados acadêmicos e a instância da docência em sala de aula. No nível da instância dos colegiados acadêmicos, professores participantes representam a relação de produção do ensino como tênue, prevalecendo na dimensão do professor em sala de aula, a priorização da disciplina e a nebulosidade curricular; na dimensão dos colegiados, sobressai a fragilidade de acompanhamento do ensino nas disciplinas, e, na dimensão institucional, a corporificação de uma estrutura falaciosa. A tênue relação contribui para conferir soberania à liberdade acadêmica corporificada nos professores com docência em sala de aula. Esta liberdade acadêmica aos moldes brasileiro espelha desencontros entre o conceito que os professores dos colegiados têm da liberdade acadêmica e a sua concretização. Conceitualmente, esses professores propõem uma liberdade acadêmica aberta à avaliação (conceito revisado); concretamente, porém, ocorre uma liberdade acadêmica sem interferências (conceito humboldtiano), com fragilidade em suas bases: o professor, a universidade e, em menor porporção, a sociedade. No nível da instância de docência em sala de aula, os professores também representam a relação produtora do ensino como tênue, o que lhes confere liberdade. Da análise das representações emergiram três categorias de docentes, refletoras de modelos históricos construtores da universidade: o professor profissional, o professor transformador social e o professor cientista. Entretanto, a liberdade acadêmica na graduação, e falaciosa, pois se afunila na disciplina, não se estendendo ao curso e à universidade. As várias etapas do estudo desvelaram que a produção do ensino de graduação ocorre numa seara de desencontros corporificada na tênue relação entre as instâncias acadêmicas estatutariamente articuladas: a instância da formalização e a instância da liberdade acadêmica. Nesta forma de articulação, os professores, participantes de ambas as instâncias, têm minimizado o seu poder central de controle sobre as decisões do pedagógico, e o curso escapa das mãos tanto dos professores que o planejam como dos que o executam. Mas este estudo não deixa de apontar que os espaços abertos por esta tênue relação entre as instâncias acadêmicas, podem ter suas conseqüências revertidas na medida em que eles permitem que aflore uma produção de ensino criativa, fundamental para a construção de uma nova universidade.