Impacto da estimulação transcraniana de corrente contínua domiciliar no comportamento alimentar de mulheres com fibromialgia : um ensaio clínico randomizado fatorial

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Jornada, Manoela Neves da
Orientador(a): Caumo, Wolnei
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/276542
Resumo: A fibromialgia (FM) é uma condição de dor crônica primária, definida por dor musculoesquelética generalizada, distúrbios do sono, disfunções cognitivas e outros problemas autonômicos. Além disso, está associada a sofrimento psicológico, incluindo catastrofismo e sintomas depressivos, que podem agravar o prognóstico e a incapacidade. Atualmente, observa-se uma alta prevalência de excesso de peso em pacientes com fibromialgia, cerca de 70%, impactando negativamente no curso e prognóstico da doença, eleva os custos de saúde e compromete a qualidade de vida desses pacientes. Existem evidências que sugerem possíveis vias fisiopatológicas compartilhadas entre a FM e a obesidade, incluindo aspectos relacionados ao comportamento alimentar. Sabe-se que a neurotransmissão dopaminérgica está alterada em ambas as condições e, alguns polimorfismos dopaminérgicos podem influenciar a disponibilidade ou a funcionalidade dos produtos gênicos relacionados. Entre as opções não farmacológicas para o manejo da dor e do comportamento alimentar disfuncional, a estimulação cerebral não invasiva, como a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC), desempenha um papel importante. Esta técnica aplicada em diferentes sítios de estimulação, como o córtex préfrontal dorsolateral (DLPFC) e o córtex motor primário (M1) não apenas demonstrou eficácia na redução dos sintomas depressivos, mas também no controle dos sintomas da fibromialgia. Isso inclui a diminuição dos níveis de dor, melhoria da função cognitiva e aumento da capacidade funcional para atividades diárias. Além disso, estudos de pequena escala sugerem seu potencial efeito em aumentar a resistência a alimentos hiperpalatáveis, contribuintes para o excesso de peso. O polimorfismo Taq1A alelo A1 (rs1800497) no gene do receptor D2 da dopamina pode afetar os domínios do comportamento alimentar e hipotetizamos que possa desempenhar um papel na resposta individual à ETCC, devido ao seu papel no sistema dopaminérgico. Portanto, este estudo visa investigar como a ETCC aplicada no córtex préfrontal dorsolateral (DLPFC) e no córtex motor primário (M1) afeta aspectos homeostáticos e hedonistas do comportamento alimentar em mulheres com FM, considerando a influência desse polimorfismo. Métodos: O estudo 1, exploratório, incluiu 106 mulheres com diagnóstico de fibromialgia (30 a 65 anos), divididas em dois grupos 7 com base na presença do alelo A1 no polimorfismo Taq1A (rs1800497): A1+ (n = 42) e A1- (n = 64). O food craving foi avaliado através do State and Trait Food-Cravings Questionnaires (FCQ-estado e FCQ-traço), os domínios do comportamento alimentar por meio do Three Factor Eating Questionnaire (TFEQ-R21), a psicopatologia alimentar através do Eating disorder Examination (EDE-Q) e a percepção de saciedade foi avaliada em uma escala de 0 a 10. Também se avaliou medidas antropométricas (peso e circunferência abdominal), a presença do polimorfismo TaQ1A e níveis séricos de BDNF. O estudo 2 incluiu 102 pacientes com fibromialgia com idades entre 30 e 65 anos, distribuídas randomicamente em um dos quatro grupos de ETCC usando uma proporção de 2:1:2:1. Os grupos incluíram e-DLPFC (a-ETCC, n=34) e (s-ETCC, n=17), ou ETCC no M1 (a-ETCC, n=34) ou (s-ETCC, n=17). As pacientes autoadministraram 20 sessões de ETCC, com 2mA por 20 minutos 5x/semana, sob supervisão remota após treinamento presencial. Os domínios do comportamento alimentar foram avaliados por meio do Three Factor Eating Questionnaire (TFEQ-R21) e o food craving através do State and Trait Food- Cravings Questionnaires (FCQ-S e FCQ-T) e de forma secundária avaliamos medidas antropométricas como peso e circunferência abdominal. Resultados: Os resultados do estudo 1 mostraram que os indivíduos portadores do alelo A1 (A1+) no polimorfismo Taq1A (rs1800497) apresentaram maior gravidade nos scores de food craving associados aos sintomas da fibromialgia, como sintomas depressivos, sensibilização central e incapacidade relacionada à dor, destacando a interação entre o craving, a alimentação disfuncional e a gravidade dos sintomas associados à FM. O estudo forneceu uma estrutura que integra sintomas da FM, neuroplasticidade e sinalização dopaminérgica para compreender a alta prevalência de excesso de peso nessa população. Os resultados do estudo 2 comprovam a eficácia da ETCC domiciliar autoaplicada sobre o DLPFC esquerdo ou M1 na melhoria de vários domínios do comportamento alimentar, incluindo restrição cognitiva, descontrole alimentar e alimentação emocional. Além disso, considerando a influência dos sintomas da FM, apenas o grupo que recebeu estimulação em M1 apresentou melhora nos padrões de Food Craving após a intervenção, sugerindo que a eficácia da ETCC na redução do Food Craving está ligada à gravidade dos sintomas da fibromialgia. Os achados dos estudos que fazem parte da presente tese abrem caminho para ensaios clínicos maiores que explorem os efeitos da ETCC domiciliar em diferentes sítios de estimulação e/ou em combinação com outras abordagens terapêuticas, incluindo terapia de aconselhamento nutricional, terapia cognitivo-comportamental, programas de exercícios físicos e tratamentos farmacológicos no futuro. O estudo 2 destaca o potencial terapêutico das intervenções destinadas a reequilibrar o sistema motivacional da dopamina e a melhora da sintomatologia associada à FM, através da indução de neuroplasticidade bem-adaptativa promovida pela ETCC domiciliar, visando tratar o ganho de peso e a obesidade comórbida à fibromialgia. Ainda, padronizamos o protocolo para o uso do equipamento de ETCC domiciliar (estudo 3), estabelecendo diretrizes claras para segurança, educação do usuário, padronização e controle de qualidade. O protocolo inclui detalhes sobre as características do dispositivo, posições dos eletrodos, protocolos de estimulação, treinamento do usuário; e abordagens para monitorar o cumprimento do protocolo. Acreditamos que um protocolo estruturado de ETCC domiciliar pode contribuir significativamente para o avanço das práticas de neuromodulação.