Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
Souza, Célia Mariana Barbosa de |
Orientador(a): |
Veronese, Francisco José Veríssimo |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/255586
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Resumo: |
Introdução: Indivíduos de ascendência africana desenvolvem doença renal crônica (DRC), especialmente doença renal crônica terminal associada à hipertensão arterial sistêmica (HAS) em uma taxa de quatro a cinco vezes maior do que Eurodescendentes. Portadores das variantes de risco G1/G2 no gene da Apolipoproteína 1 (APOL1), localizado no cromossomo 22, apresentam um risco três vezes maior de desenvolver nefropatias do que a população sem ascendência africana. No Brasil, a população afrodescendente soma 56% da popluação geral, e sofreu os agravos de quase 04 ésculos de escravidão, influenciando negativamente na inserção dessa população na sociedade brasileira, contribuindo para um desigual e desfavorável acesso a direitos e oportunidades, em especial à saúde. Até o momento existem poucos estudos no Brasil investigando a prevalência das variantes de risco do gene da APOL1 em afrodescendentes, e a DRC associadas às variantes do APOL1. Objetivo: O objetivo primário deste estudo foi determinar a prevalência do genótipo de alto risco G1+G2 do gene da APOL1 em pacientes afrodescendentes portadores de doença renal crônica associada a hipertensão arterial sistêmica e glomeruloesclerose segmentar e focal primária, comparado a indivíduos afrodescendentes saudáveis do Rio Grande do Sul. Métodos: Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o impacto de APOL1 na DRC em diferentes populações, em especial no Brasil. A revisão integrativa se deu em bases de dados públicas Pubmed, Lilacs e Scielo, a partir da busca de referências sobre a presença de variantes de risco do gene APOL1 em afrodescendentes. Foram consideradas todas as publicações em inglês, espanhol e português em um período de doze anos, desde a descrição das variantes G1 e G2 do APOL1 em 2010, até outubro de 2020. Além disso, conduzimos um estudo de caso-controle no qual foram recrutados pacientes adultos dos ambulatórios de Doença Renal Crônica, de Glomerulopatias das Unidades de Hemodiálises do Serviço de Nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Além disso, foram recrutados pacientes das Clínicas de Hemodiálises dos municípios de Viamão, Gravataí, Cachoeirinha, Pelotas e Osório. Como controles, foram selecionados trabalhadores afrodescendentes saudáveis do HCPA, sem a evidência clínico-laboratorial de doença renal. A caracterização de ambos os grupos foi realizada a partir de dados clínico-laboratoriais prévios, além de uma amostra de sangue para avaliação de parâmetros bioquímicos e extração de DNA. A presença das variantes de APOL1 e as análises de ancestralidade foram realizadas pelo sequenciamento completo do genoma por sequenciamento de nova geração. O impacto dos alelos de risco no desenvolvimento da DRC foi estimado por regressão logística binária uni e multivariada. As análises foram conduzidas no software SPSS. Resultados: A revisão da literatura identificou 524 artigos, sendo que 267 foram considerados e analisados, sendo sete artigos brasileiros. A presença dos 4 alelos G1/G2 confere risco para diferentes tipos de doença renal em indivíduos de ascendência africana, principalmente na DRC associada à hipertensão arterial sistêmica (HAS) não-diabética. Dos sete estudos na população brasileira, apenas três realizaram genotipagem de pacientes para avaliação do risco da variante APOL1. Os estudos avaliaram as variantes no desenvolvimento de DRC terminal, nefrite lúpica, e tempo para início da hemodiálise. Além disso, pesquisas brasileiras de genotipagem de APOL1 em material coletado de sangue e mucosa oral demonstraram a qualidade dos protocolos de genotipagem, proporcionando mais uma possibilidade de mapeamento gênico. No nosso estudo caso controle, coletamos 345 indivíduos recrutados, sendo que para 328 foi possível realizar a análise molecular. A frequência dos alelos de G1 foi de 11% e G2 5%. A análise de ancestralidade global mostrou uma média de 49% de ancestralidade africana, 33% de ancestralidade europeia e 18% nativo-americana. A análise de regressão logística univariada mostrou um risco aumentado (OR = 4,55; IC 95% 1,66-12,46; p= 0.03) para desenvolvimento de DRC associado aos genótipos de APOL1, e considerando sexo e idade como variáveis de ajuste do modelo de regressão multivariada, o risco estimado para os alelos G1 e G2 ficou em OR = 4.717 (IC 95% 1.53 - 14.53, p=0.007). Conclusão: Embora DRC seja uma doença prevalente com alta morbidade e mortalidade e a população brasileira seja em sua maioria autodeclarada negra, existem poucos estudos sobre o impacto dos alelos de risco de APOL1 no Brasil. O nosso estudo identificou uma frequência dos alelos G1 e G2 e um risco para desenvolvimento de DRC na população negra do RS não negligenciável, chamando a atenção para a necessidade de inquéritos nacionais sobre esta temática e manejo do risco associado a APOL1. |