Resumo: |
Aborda-se o campo discutindo os entendimentos quanto à intersetorialidade, à concepção de Estado e seus regimes de configuração, aos modos de governamento e produção de sujeitos, e, ainda, às especificidades conferidas a municípios de pequeno porte. A experiência é incorporada ao processo de dissertar sob inspiração de contribuições de Michel Foucault, na relação que estabelece com suas vivências no processo de produção escrita, de Jorge Larrosa Bondía na discussão dos saberes possíveis da experiência, e de Donna Haraway ao situar a localização dos saberes em sua potência na produção de conhecimento. Utiliza-se a estratégia de ficcionalização e embaralhamento de fontes para a construção de narrativas que expressem o cotidiano do trabalho nessas políticas públicas em suas passagens intersetoriais. Opera-se um processo de ficcionalização a partir de fragmentos das vivências, afetações e estranhamentos ao longo de 4 anos e meio de um trabalho simultâneo em lugares distintos de atuação no SUS e no SUAS. Duas narrativas-mosaico foram construídas, expressando configurações de redes vivenciadas e possíveis diante das estruturas e arranjos institucionais vigentes no país para municípios de pequeno porte em um determinado tempo (2014-2018). Para cada uma, um dia de trabalho, uma rede municipal, dois casos e múltiplas situações disparadoras que vão mapeando passagens intersetoriais entre as políticas, em atenção ao cuidado em saúde e à proteção social operadas. Ainda, são incorporados mapas de navegação, visando propiciar alguma imersão nos territórios onde se inserem as redes de serviços. Após cada narrativa-mosaico, análises são produzidas conforme a abertura de trilhas reflexivas oportunizadas por situações disparadoras e pela construção de diferentes ecomapas. Assim, narrativas-mosaico, mapas, ecomapas e trilhas reflexivas problematizam como as redes municipais vão se desenvolvendo, criando condições ou não de se efetivar intersetorialmente, que efetivação é essa que pode se dar e o que ela vai produzindo em suas passagens. A intersetorialidade entre SUS e SUAS é problematizada quanto aos seus modos de operação e seus efeitos, de forma a refletir as condições estatais de execução das políticas em seus impactos na configuração das redes de serviços, além de visibilizar passagens intersetoriais que operam modos de cuidar e proteger entre o asilar e o psicossocial. Indica-se a existência de uma intersetorialidade que oscila, ora em uma perspectiva neoliberal de diminuição do estado e produção de subjetividade na lógica homo œconomicus, ora numa perspectiva de expansão estatal em uma lógica de produção de sujeitos de direitos. Reflete-se sobre o transitar em sua potência transgressora das políticas e a transgressão como forma de operar uma intersetorialidade transdisciplinar. Trata-se então de uma escrita feita por trilhas e mosaicos. Enquanto as trilhas dizem dos movimentos de percurso, os mosaicos vão sendo construídos a partir de múltiplos e variados fragmentos que se coletou ao trilhar. |
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