Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2021 |
Autor(a) principal: |
Muniz, Tatiane Pereira |
Orientador(a): |
Rohden, Fabiola |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/229816
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Resumo: |
Esse trabalho de investigação consistiu no rastreamento dos processos de materialização da raça nas narrativas e práticas dos profissionais de saúde. Na expectativa de uma abordagem do objeto que oferecesse uma alternativa analítica às disputas em torno da existência/inexistência biológica, que resultam na ênfase de uma versão discursiva/construída da categoria, persegui uma analítica da raça que a tomasse como efeito material-semiótico, e à sua materialidade somática como efeito ou somatização de processos de racialização. Para tanto, procedi à etnografia das práticas de geneticistas e profissionais do campo biomédico (aulas, reuniões de grupo de pesquisa, trabalho de bancada nos laboratórios, cursos de extensão, congressos profissionais). Também estabeleci interlocuções com profissionais de outros âmbitos institucionais, participando de grupos de trabalhos de instâncias municipais e federais, cursos de formação de promotores em saúde da população negra na atenção básica, eventos promovidos pelos movimentos sociais, audiências públicas, conselhos profissionais e bancas de aferição racial em concursos. Inspirada em certa vertente teórico-metodológica dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, busquei as conexões que conformavam estabilizações provisórias da raça, visando a tomada de decisões nas práticas destes profissionais – fossem tais práticas relacionadas à formação, à pesquisa, à intervenção ou à política. Desse modo, lancei mão de metáforas como "interferência" e "performance", inspiradas por Annemarie Mol, para falar sobre as diversas versões da raça; "objetos dobrados" e "presença ausente", conforme empregados por Amade M‘Charek; e "modos de sincretismo", de John Law, que se me afiguraram como ferramentas analíticas adequadas ao desafio de capturar um objeto tentacular, fugidio e difuso. Por meio destes instrumentos analíticos, demonstrei como, apesar das tentativas de interdição discursiva e esvaziamento material, a raça fica subsumida na ausência do não dito, no tabu que ratifica a norma, nas lacunas tecnológicas e na ignorância deliberada e estrategicamente produzida sobre o protagonismo da raça e do racismo na orientação das práticas de profissionais de saúde. Assim, a raça resulta em um objeto que está em permanente disputa material, simbólica e, particularmente, política. Tais disputas lhe conferem um caráter fugaz. Porém, a despeito de sua aparente fragilidade e instabilidade ontológica, a raça é dotada do poder de produzir efeitos muito concretos, sejam eles estruturais, somáticos ou discursivos. Rastrear as conexões por estas diferentes mediações possibilitou abordar a raça de modo a evidenciar como esta se substancializa na prática e vai ganhando estabilidade duradoura de modo a sustentar o racismo estrutural. |