No labirinto de uma antropologia ambiental : epistemologias ecológicas e espiritualidades em quatro ecovilas brasileiras

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Brito, Luz Gonçalves
Orientador(a): Oro, Ari Pedro, Chiesa, Gustavo Ruiz
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/283248
Resumo: Esta tese versa sobre algumas relações entre ecologia e espiritualidade em quatro ecovilas brasileiras: Arca Verde (São Francisco de Paula-Rio Grande do Sul); Vrinda Bhumi (Piracicaba-Minas Gerais); Goura Vrindavana (Paraty-Rio de Janeiro); e Muriqui-Assu (Niterói-Rio de Janeiro). Compreende-se espiritualidade enquanto uma categoria analítica da maior importância no debate contemporâneo acerca da experiência secular da modernidade. Há urgência em qualificar e refinar o conceito de espiritualidade para além da ideia comum de que ela se refere apenas à privatização do religioso no quadro imanente do horizonte moderno. Esta tese argumenta que é possível entender espiritualidade para além da dicotomia entre o íntimo e o político; e para além do par pessoal-social. Compartilha do entendimento de que espiritualidade é categoria conformada historicamente; que apresenta variações de acordo com situações específicas. O trabalho de campo em demonstra que espiritualidade apresenta nuances e diferentes concepções. Uma dessas noções é que espiritualidade concerne à busca da pessoa por certa conexão entre seres e coisas no mundo. Assim concebida, espiritualidade articula-se de modo intricado à ecologia, entendida aqui também como uma busca pelo ‘padrão que liga todas as coisas’. Epistemologias ecológicas e espiritualidades são como dois afluentes de um mesmo rio. Outra concepção encontrada é de que espiritualidade concerne ao processo interno de transformação pessoal, que ressoa no social. Tal concepção dilui as fronteiras entre pessoa e mundo e, para ser compreendida acuradamente, exige um arsenal teórico não apenas sociológico ou antropológico, mas também fenomenológico. Assim, torna-se possível entender como a experiência de transformação de si em contato com a natureza ressoa no mundo da vida. Este estudo caminha pelos interstícios de uma opção metodológica epistêmica e de uma opção metodológica fenomenológica. A primeira está fundamentada em uma abordagem pós-estruturalista das concepções apresentadas por interlocutores acerca da relação entre pessoa e mundo. A segunda navega pelas intersecções das fenomenologias de Ingold, Merleau-Ponty e Schutz. Essa opção fenomenológica relaciona a ideia husserliana de "mundo vivido", o conceito de "mundo social" de Schutz, o conceito de "carne" de Merleau-Ponty e o conceito de "ambiente" de Ingold. O procedimento metodológico básico deste estudo é a realização de pesquisa de campo e entrevistas, as quais nomeei viagem etnográfica e diálogos. Através desse caminho metodológico, foi possível registrar diferentes noções de espiritualidade e pensamento ecológico. A narrativa etnográfica é inspirada pelas descrições críticas de Tsing, nas quais análises abrangentes emergem dos detalhes do mundo. Em suma, o argumento da tese é de que a) espiritualidade refere-se a uma experiência de transformação das pessoas que não se restringe à vida íntima porque b) quando uma pessoa tem a experiência espiritual, ela alcança uma percepção diferente das conexões entre tudo o que há no mundo; e c) essa transformação de percepção ressoa no mundo à medida em que a pessoa age de um modo distinto.