Plurilinguismo na paisagem linguística da fronteira entre Brasil e Uruguai

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Gonçalves, Dania Pinto
Orientador(a): Altenhofen, Cleo Vilson
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/233742
Resumo: A presente Tese tem por foco o plurilinguismo na fronteira Brasil – Uruguai, muitas vezes encoberto, no senso comum, pela visão simplificada do dualismo entre as línguas “nacionais” português e espanhol. Sua identificação e análise será feita por meio do estudo da paisagem linguística (ing. linguistic landscape), campo de pesquisa dedicado à análise e interpretação da presença visual – escrita – de línguas no espaço público, por exemplo em placas de ruas, sinais de trânsito, placas comerciais, outdoors, pichações etc. Parte-se do princípio de que todo e qualquer sinal gráfico em determinada língua é resultado da intenção e motivação de alguém que produziu esse sinal, de acordo com seu repertório linguístico, identidade e pertencimento a uma comunidade linguística específica. O contexto de fronteira, eminentemente plural e contatual, presta-se de forma particular a esse tipo de estudo. Na presente Tese, reuniram-se dados de 10 localidades da fronteira Brasil – Uruguai, distribuídas nos pares de cidades fronteiriças Chuí – Chuy (BR01 / UY01), Jaguarão – Rio Branco (BR02 / UY2), Aceguá – Aceguá (BR03 / UY03), Sant’Ana do Livramento – Rivera (BR04 / UY04) e Quaraí – Artigas (BR05 / UY05), em uma extensão que, mesmo ultrapassando os 1.000 km, é proporcionalmente pouco povoada. O problema e questionamentos em relação ao contexto da fronteira, no que tange à fronteira Brasil – Uruguai, derivam muitas vezes do pouco conhecimento que se possui sobre as comunidades linguísticas que aí vivem à margem do português e do espanhol. A partir da literatura e da experiência empírica, sabe-se que circulam nesse espaço muitas outras línguas – árabe, italiano, mandarim, alemão, inglês, francês, além do próprio português e espanhol. A paisagem linguística pode, nesse sentido, nos revelar mais sobre esse plurilinguismo. É, por isso, objetivo deste estudo descrever e compreender o papel da presença visual das línguas no espaço plurilíngue da fronteira entre Brasil e Uruguai. São três os objetivos específicos: 1º) contribuir para o estabelecimento de uma metodologia para coleta e análise de dados em paisagem linguística, 2º) entender a dinâmica de ocupação dos espaços sociais pelas diferentes línguas e possíveis comunidades linguísticas e 3º) mapear possíveis territorialidades das línguas, por meio da paisagem linguística. Em relação ao esforço de aprimoramento dos aspectos metodológicos, foram testados e aprofundados os procedimentos adotados por Cenoz e Gorter (2006), Bagna e Barni (2006) e Barni e Bagna (2009). Essa metodologia parte do mapeamento feito através de registros fotográficos da paisagem linguística desde uma unidade de análise macro, que seriam os países Brasil e Uruguai, até uma unidade de análise cada vez menor, englobando o estado e departamentos, região fronteiriça, municípios, distritos, centro/periferia, bairro, para finalmente chegar à unidade mínima de análise da rua. Nesse sentido, foram fotografados, em 65 dias de trabalho de campo, dois países, um estado e quatro departamentos, 1.000 km de fronteira, nove municípios, um distrito, 10 áreas centrais, 146 bairros periféricos e 176 ruas, resultando em um banco de dados de 7.251 fotografias e 3315 unidades de análise. A análise desse corpus evidenciou um espaço fronteiriço notoriamente plurilíngue, em que se observam línguas como o árabe (BR01 e BR05), como o mandarim (BR04/UY04), inglês, em todos os pontos, francês (UY01, UY02, UY03, UY04 e UY05) entre outras. Especialmente sintomática e relevante é a forma como essas línguas aparecem, muitas vezes compartilhando a mesma placa ou unidade de análise, e frequentemente em aglomeração com outras marcas da mesma língua no seu entorno. Com isso, fica evidenciada a 5 relevância da paisagem linguística na dinâmica de ocupação do espaço fronteiriço, em que uma marca gráfica não tem seu significado restrito a uma placa isolada, mas muito mais revela uma relação estreita com o espaço de ocorrência e a comunidade de fala por trás de sua produção.