Caracterização clínica com ênfase em aspectos neuropsiquiátricos, cardiológicos e qualidade de vida de uma coorte de pacientes do Sul do Brasil com diagnóstico tardio de homocistinúria clássica

• Ano de defesa: 2021
• Autor(a) principal: Donis, Karina Carvalho
• Orientador(a): Schwartz, Ida Vanessa Doederlein
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: eng
• Palavras-chave em Português: Homocistinúria; Cistationina beta-Sintase; Valvopatia Aórtica; Qualidade de vida
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/250244

Introdução: A Homocistinúria Clássica ou Deficiência de Cistationina βsintase é uma doença genética, autossômica recessiva, multissistêmica de curso lento e progressivo que ocorre pela alteração no metabolismo dos aminoácidos sulfurados, com aumento dos níveis de homocisteína, metionina, S adenosil homocisteína e redução de cistationina e cisteína. A Homocistinúria Clássica pode ser classificada em três formas: responsiva à piridoxina (vitamina B6), nãoresponsiva à piridoxina e com resposta intermediária à piridoxina. Sem o diagnóstico e tratamento precoces, os pacientes apresentam um quadro clínico caracterizado por anormalidades oftalmológicas, ósseas, vasculares e no sistema nervoso central. Todos os pacientes devem receber tratamento com suplementação de ácido fólico e vitamina B12 se houver deficiência. O tratamento recomendado para pacientes responsivos é o uso de piridoxina 10 mg/Kg/dia evitando doses acima de 500 mg/dia por risco de neuropatia periférica. O uso do tratamento dietético e betaína deve ser considerado para os pacientes que não atingiram níveis ideais de homocisteína total apenas com a suplementação de piridoxina. Objetivos: avaliar a qualidade de vida, detectar prevalência de deficiência intelectual, descrever quadro psiquiátrico e caracterizar alterações em Sistema Nervoso Central através de volumetria cerebral em pacientes com Homocistinúria Clássica acompanhados no ambulatório de Genética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Métodos: o estudo foi realizado em três etapas. Os pacientes incluídos são acompanhados em um ambulatório especializado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A amostra foi por conveniência e os pacientes tinham que ter diagnóstico confirmado de Homocistinúria Clássica. Na primeira etapa, realizou-se um estudo retrospectivo avaliando qualidade de vida através da aplicação do questionário WHOQOL-BREF em 11 pacientes. Além disso, foi avaliado o QI através do questionário WASI de 8 pacientes. Na segunda etapa, para avaliar quadro psiquiátrico, foi realizado um estudo transversal, prospectivo através da aplicação das escalas Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS), Escala de Ansiedade de Beck, Hamilton e Escala de Depressão de Beck (BD) em 8 pacientes. Após, um estudo transversal de volumetria cerebral foi realizado nestes 8 pacientes. Na terceira etapa, foi realizada uma análise retrospectiva de 14 pacientes para avaliar alterações cardiológicas através da análise de eletrocardiogramas e ecocardiogramas. Resultados: na primeira etapa foi verificado que os pacientes em tratamento para Homocistinúria Clássica apresentaram escores mais elevados no domínio psicológico quando comparados aos pacientes não tratados. A segunda etapa mostrou que o volume total do tálamo controlado pelo volume craniano e idade teve correlações negativas com a Escala de Depressão de Beck, Escala de Hamilton, BPRS e com dois subitens do BPRS, preocupações somáticas e maneirismos. Pacientes com Homocistinúria Clássica, quando comparados a indivíduos saudáveis, pareados por idade e sexo, apresentaram mais locais de hipointensidade de substância branca. Na terceira etapa foi verificada uma alta prevalência de valvulopatias. Conclusão: Nossos dados sugerem que o tratamento de pacientes com Homocistinúria Clássica associa-se a uma melhora na qualidade de vida no aspecto psicológico, que as alterações no QI são prevalentes e que os pacientes apresentam quadro compatível com depressão, ansiedade e esquizofrenia. Há uma tendência no envolvimento do tálamo como uma das estruturas relacionadas às condições psiquiátricas nos pacientes com Homocistinúria Clássica e valvulopatias são frequentemente encontradas em pacientes com Homocistinúria Clássica não responsivos à piridoxina. Apenas um paciente responsivo à piridoxina apresentou ectasia de raiz da aorta.