“A mineradora é a mãe de Araxá”? : desenvolvimento e controvérsias em torno da mineração de nióbio em Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Blanco, Gabriela Dias
Orientador(a): Almeida, Jalcione Pereira de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/254530
Resumo: Esta pesquisa trata dos efeitos da mineração para além do rompimento de barragens no Brasil. O foco empírico de análise é a exploração de nióbio realizada em Araxá, Minas Gerais, pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). O nióbio é um metal considerado estratégico para a balança comercial brasileira, uma vez que o país é o seu principal exportador mundial, sendo responsável por 93,7% da sua produção mundial (DNPM, 2016). Do total exportado pelo país, 75% é decorrente da mina localizada na região do Barreiro, em Araxá. O ponto de partida para a análise é a descrição de uma controvérsia – desdobrada a uma disputa judicial – que teve início em 2008, quando moradores do Barreiro passaram a denunciar a presença de um nível elevado de bário nas águas que abasteciam suas casas, vinculando a contaminação às atividades da CBMM. Ancorando-se nas contribuições da Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2000; 2017; CALLON, 2004; 2008; MOL, 2010), em diálogo com os estudos sobre pós-desenvolvimento (ESCOBAR, 1995; FERGUSON, 1990; 2006), a pesquisa debruça-se sobre o seguinte problema: de que modo a controvérsia tecnocientífica referente à presença de bário nas águas do município de Araxá relaciona-se à presença do aparato de desenvolvimento constituído em torno do megaempreendimento de nióbio, fazendo existir lugares com e a partir da mineração? O estudo de viés qualitativo e inspiração etnográfica foi composto pelas técnicas de pesquisa documental, entrevistas com atores diretamente envolvidos e/ou afetados pelas atividades de mineração em Araxá e escritas de diários de campo durante a permanência no campo de pesquisa, entre os meses de fevereiro e março de 2020. Foram mapeados dois grandes movimentos da controvérsia: um primeiro, referente ao seu enquadramento em torno do bário nas águas (bário antrópico versus bário natural) e, um segundo, referente ao transbordamento da controvérsia para além do bário nas águas, demarcando-se os efeitos não negociados da mineração e seu aparato de desenvolvimento no lugar. A desigualdade existente entre moradores e mineradoras no acesso a técnicos e peritos, assim como a impossibilidade de uma tradução e mensuração das experiências dos moradores por meio de laudos, tabelas e gráficos, lançou luz à presença de traduções assimétricas (MEDINA, 2013), quando da tentativa de estabilização de controvérsias tecnocientíficas por parte do judiciário/Estado. Na análise sobre o aparato de desenvolvimento, diferentes coproduções de uma “ausência” do Estado e uma “presença” da mineradora foram apresentadas, defendendo-se a pertinência da leitura do desenvolvimento como uma máquina antipolítica (FERGUSON, 1990) e geradora de desejos (DE VRIES, 2007; KAPOOR, 2020; RADOMSKY, 2020), uma vez que junto à “purificação” da tecnociência minerária, há a sedução e produção efetiva de expectativas a respeito das promessas não cumpridas pelo desenvolvimento. A ambivalência encontrada entre interlocutores da pesquisa em defenderem e se oporem, simultaneamente, à exploração do nióbio, demarcou disputas não apenas do presente, mas dos futuros possíveis para o lugar (MASSEY, 2000; 2009). Desde uma perspectiva ontológica (DE LA CADENA, 2018), essas disputas foram lidas como disputas entre um lugar minerável (CHIZENGA, 2020) e um lugar não apenas minerável, e as (im)possibilidades de coexistência frente à mineração em larga escala foram tomadas como a expressão de uma produção de ontologias residuais, na medida em que humanos e não humanos são sentenciados a se tornarem o resto do desenvolvimento.