Além das raízes culturais: as habilidades de caça de golfinhos cooperativos do sul do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Serpa, Nathalia Barbosa
Orientador(a): Moreno, Ignacio Maria Benites
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/202770
Resumo: A diversidade comportamental de golfinhos selvagens pode ilustrar o processo de transformação dos ambientes naturais. No entanto, a investigação de seus comportamentos é limitada às condições de detectabilidade e, por isso, seus repertórios podem ser subestimados. Por expandir o campo observacional, de forma segura e não invasiva, o uso de drones vem ampliando o conhecimento acerca dos aspectos sociais e comportamentais desses animais. Seus dados visuais (e.g. vídeos), além de serem reinterpretáveis, recriam o ambiente no contexto temporal e espacial, o que facilita acompanhar a dinâmica das paisagens naturais e de seus componentes biológicos. Apesar de ser um grupo estudado há quase três décadas, as atividades de caça dos botos ainda não foram analisadas de forma ampla - até o presente momento, os esforços pesquisa concentraram-se nas culturais táticas associadas à pesca cooperativa. Neste trabalho investigamos o repertório comportamental dos botos (Tursiops gephyreus) do estuário do rio Tramandaí a partir da perspectiva aérea. Também exploramos suas relações sociais e analisamos a influência de seu repertório na prática de pesca dos pescadores artesanais. Ao longo de um ano (jun/17-mai/18) sobrevoamos o canal estuarino utilizando um Veículo Aéreo Não Tripulado (hexacoptero S550), totalizando cerca de 10 h de filmagem. Buscando evitar possíveis reações dos animais, estabelecemos uma altura mínima para os voos de 20 m de altura. Simultaneamente aos sobrevoos, os botos foram identificados a partir da técnica de foto-identificação. As filmagens foram analisadas no software de livre acesso BORIS (Behavioral Observation Research Interactive Software). Os repertórios individuais foram comparados em relação a sua dissimilaridade e a análise foi conduzida no software R (pacote Vegan). Já os padrões de associação (simple ratio index, SRI) entre os animais foram obtidos com o software SOCPROG. Foi possível identificar que os golfinhos estuarinos de Tramandaí possuem um repertório diverso, apresentando mais de 20 táticas de caça. A análise de agrupamento, baseada na dissimilaridade entre os indivíduos (Bray-Curtis index), evidenciou a variabilidade intrapopulacional e padrões relacionados à modulação comportamental ao longo da ontogenia. Também identificamos traços de personalidade individuais e particularidades do grupo residente em relação a um animal visitante, das quais sugerem a adaptação da população residente ao ambiente. A exceção do par mãe-filhote, a associação dos animais com outros indivíduos ocorreu de forma aleatória durante as atividades de caça. Uma ampla gama (n=16) de táticas influenciou as tentativas de captura pelos pescadores artesanais, no entanto poucas delas (n=4) influenciaram positivamente sua produtividade. Os resultados obtidos neste estudo revelaram padrões ainda mais complexos do que já se conhecia acerca da plasticidade e especialização comportamental dos botos do estuário do rio Tramandaí, dos quais representam uma prática cultural de pesca singular do mundo contemporâneo.