Microbiota e perfil de resistência a antimicrobianos em carcaças congeladas de frango de produção convencional e certificadas como de criação com restrição de uso de antimicrobianos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Vieira, Tatiana Regina
Orientador(a): Cardoso, Marisa Ribeiro de Itapema
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/282550
Resumo: O aumento e disseminação de bactérias resistentes a antimicrobianos é considerado um problema global de saúde pública. Entre as causas desse problema são frequentemente citados o uso indiscriminado de antimicrobianos em humanos, animais de produção e agricultura. Estudos têm demonstrado os animais de produção como importantes reservatórios de bactérias resistentes a antimicrobianos devido à pressão de seleção exercida pelo uso de antibióticos durante sua criação. Os alimentos de origem animal podem servir de veículo para micro-organismos patogênicos resistentes a antimicrobianos, ou mesmo para bactérias comensais portadoras de genes de resistência, os quais podem ser transmitidos para a microbiota de humanos. As soluções propostas para esse problema vão desde o banimento do uso de antimicrobianos importantes para a saúde humana com a finalidade de aditivos zootécnicos em animais até a mudança para sistemas de criação alternativos como as produções orgânica e livre de antibióticos. O impacto dessas medidas em animais de criação intensiva como o frango ainda está sendo avaliado, bem como as possíveis diferenças em termos da presença de marcadores fenotípicos e genotípicos de resistência a antimicrobianos nos produtos originados de sistemas alternativos. Sendo assim, o presente estudo objetivou comparar grupos de carcaças congeladas de frango com selo de produção orgânica (GO) ou livre de antibióticos (GL) em relação àqueles de produção convencional (GC), nos seguintes aspectos: i) diferença de padrões de resistência a antimicrobianos em Escherichia coli genérica isoladas a partir das carcaças; ii) presença de bactérias produtoras de beta-lactamases de espectro estendido (ESBL); e iii) diferença da microbiota e dos perfis de genes de resistência a antimicrobianos presentes nas carcaças. Para tanto, 24 frangos congelados embalados na indústria pertencentes a cada um dos três grupos foram adquiridos no comércio varejista, descongelados e submetidos individualmente à lavagem com água peptonada. Para avaliação do perfil fenotípico de resistência, 216 cepas de E. coli isoladas do líquido de lavagem foram avaliadas frente à 12 antimicrobianos. A pesquisa de E. coli-ESBL foi realizada por isolamento seletivo a partir do líquido de lavagem, de acordo com o protocolo elaborado pela European Union Reference Laboratory Antimicrobial Resistance, seguido da avaliação do perfil fenotípico de resistência a 19 antimicrobianos nas cepas confirmadas como produtoras de ESBL. Um total de 24 cepas de E. coli produtoras de ESBL foram escolhidas, submetidas a sequenciamento completo do genoma e avaliadas in silico quanto à filogenia e a presença de genes de resistência a antimicrobianos. A caracterização da microbiota bacteriana e do metarresistoma foram realizadas por metagenômica shotgun, a partir do sequenciamento de alto desempenho do DNA total dos produtos de lavagem das carcaças. A resistência a pelo menos um antimicrobiano foi observada em 59,2% (128/216) do total das cepas de E. coli independente do grupo. As maiores frequências de resistência foram à tetraciclina (TET; 32,4%), trimetoprima (TRI; 28,2%), ampicilina (AMP; 25,0%) e ácido nalidíxico (NAL; 18,5%). Não foram detectadas cepas resistentes à colistina, meropenem e tigeciclina. Os valores de MIC50 ficaram abaixo do ponto de corte clínico (CLSI, 2020) e do ponto de corte epidemiológico (ECOFF) nos três grupos de amostras. Em relação aos valores de MIC90, NAL, AMP e TET apresentaram valores acima do ponto de corte clínico e epidemiológico independente do grupo. Além disso, o grupo GO apresentou MIC90 acima do ponto de corte clínico para gentamicina e GL ultrapassou este ponto de corte para gentamicina e cefotaxima. A partir do modelo de regressão de Poisson verificou-se que, tomando GC como referência, houve diferença no sentido de maior ocorrência de cepas de E. coli totalmente suscetíveis, menor frequência de multirresistência, e menor número de cepas resistentes à ampicilina e ácido nalidíxico em GO. Em GL, apenas a menor frequência de resistentes à ampicilina em relação a GC foi demonstrada. Escherichia coli-ESBL foi encontrada em 39% dos frangos analisados. Oito carcaças apresentaram o perfil fenotípico ESBL/AmpC, representando 23,2% (17/73) das cepas ESBL. As maiores frequências de resistência em E. coli-ESBL foram detectadas frente a ácido nalidíxico, ceftiofur, cefepime, sulfametoxazol+trimetoprim e tetraciclina. A frequência de E. coli-ESBL multirresistente foi de 76,7%. Todos os isolados foram suscetíveis à meropenem, amicacina, nitrofurantoína e colistina. O resistoma das cepas E. coli-ESBL sequenciadas identificou a presença de 95 genes de resistência distintos. Dentre os genes que conferem resistência aos betalactâmicos, foram identificados genes codificadores de enzimas do tipo AmpC (blaCMY-2) e ESBL (blaCTX-M-2, blaCTX-M-8, blaCTX-M-55, blaSHV-2A e blaTEM-141-1). Foram identificados 18 Tipos de Sequência (ST) e 15 sorotipos distintos nessas cepas, dentre eles ST131 e ST648, os quais são importantes patógenos para humanos. Quanto à caracterização da microbiota das amostras, não houve diferença entre os grupos em relação a abundância dos principais filos e classes presentes. O principal filo identificado foi Proteobacteria, enquanto as famílias Pseudomonadaceae, Moraxellaceae e Enterobacteriaceae foram as mais frequentes. As análises do metarresistoma demonstraram maior abundância de genes de resistência em GC. Os genes mais frequentemente identificados codificam resistência a betalactâmicos e aminoglicosídeos. Vinte e nove genes foram comuns aos três grupos, incluindo os genes que conferem resistência a betalactâmicos, aminoglicosídeos e tetraciclinas, além de genes de bombas de efluxo que podem conferir resistência a mais de uma categoria de antimicrobianos. Conclui-se que frangos congelados com selo de produção orgânica e livre de antibióticos apresentam perfis de genes de resistência, microbiota, presença de E. coli produtora de ESBL e prevalência de resistência fenotípica a antimicrobianos semelhantes ao encontrado em frangos de criação convencional. Entretanto, frangos com selo de produção orgânica apresentam maior prevalência de E. coli genérica totalmente suscetível a antimicrobianos importantes para humanos, menor prevalência de cepas multirresistentes e menor frequência de cepas resistentes à ampicilina e ácido nalidíxico do que frangos de produção convencional. De forma similar, a abundância de genes de resistência presentes em frangos congelados de produção orgânica é menor do que a encontrada em frangos de produção convencional. Essas observações indicam que há menor pressão de seleção de resistência a antimicrobianos nos sistemas de produção orgânica e que esse fato tem reflexo no produto ofertado ao consumidor.