Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
1996 |
Autor(a) principal: |
Moreira, Leila Beltrami |
Orientador(a): |
Fuchs, Flávio Danni |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/197670
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Resumo: |
Justificativas para a pesquisa: Estudos epidemiológicos têm detectado associação positiva entre o consumo crônico de álcool e elevação dos níveis tensionais e prevalência de hipertensão arterial sistêmica. De modo geral, são consistentes quanto à elevação da pressão arterial sistólica e diastólica a partir do consumo diário médio de três drinques por dia (30g de etano!). A maior parte dos estudos descreve uma curva dose-resposta linear, mas outros observam uma relação não-linear. Persistem controvérsias quanto ao baixo consumo, associado, em alguns estudos e especialmente entre as mulheres, à diminuição da pressão arterial. Discute-se, ainda, a repercussão do padrão de consumo, quanto a sua variabilidade e ao tempo decorrido entre a ingestão de bebidas alcoólicas e a aferição da pressão arterial. Considerando-se a alta prevalência de indivíduos usuários de bebidas alcoólicas em nosso meio, à luz dos aspectos comentados, justifica-se investigar a associação entre quantidade e padrão de consumo de bebidas alcoólicas com pressão arterial e prevalência de hipertensão arterial. Objetivo: Avaliar a associação entre a quantidade de álcool consumida e os padrões de consumo de bebidas alcoólicas com a pressão arterial e com a prevalência de hipertensão arterial sistêmica na população adulta de Porto Alegre. Métodos: Efetuou-se um estudo observacional, analítico e de delineamento transversal. Estudaram-se 1089 indivíduos residentes na região urbana, selecionados por processo de amostragem aleatória proporcional, em estágios múltiplos e por conglomerados. Coletaram-se os dados através de questionário estruturado em entrevista domiciliar. Aferiu-se a exposição ao álcool através de perguntas dirigidas ao tipo, quantidade e freqüência de consumo de bebidas alcoólicas. Tomando-se o conteúdo de álcool presente em cada tipo de bebida, calculou-se o consumo médio em gramas de álcool por dia. Classificou-se o consumo igual ou superior a 30g/d como abuso, um nível de exposição apontado como risco para a saúde. Empregou-se o questionário CAGE como indicador de dependência, considerado positivo diante de pelo menos duas respostas afirmaÚvas. Determinou-se a pressão arterial com esfigmomanômetros aneróides, em condições padronizadas, com o manguito para adultos não-obesos, corrigindo-se a medida conforme a circunferência braquial. Definiu-se hipertensão arterial sistêmica pela média de duas aferições, seguindo-se o critério de pressão arterial diastólica igual ou superior a 95mmHg ou sistólica igual ou superior a 160mmHg. Avaliaram-se a intensidade e a forma de associação considerando-se a pressão arterial diastólica, sistólica e categorizada em hipertensão presente ou ausente, em toda a amostra e por sexo. Utilizaram-se regressão linear simples e múltipla e modelos de regressão não-lineares, com os termos quadrático e cúbico do consumo de álcool. A exposição ao álcool foi também definida pelas faixas de consumo, abuso, freqüência, dependência (CAGE), consumo proporcional de bebidas fermentadas ou destiladas e tempo decorrido entre a ingestão de bebida alcoólica e a aferição da pressão arterial. A associação entre prevalência de hipertensão arterial e exposição ao álcool foi analisada através de regressão logística considerando os mesmos grupos de comparação. Em todos os modelos foram incluídas variáveis de controle identificadas de acordo com pressupostos teóricos e com a associação bruta com a exposição e desfecho. Resultados: Observou-se associação positiva entre a quantidade de álcool consumida com pressão arterial e prevalência de hipertensão, independentemente da idade, obesidade, escolaridade, tabagismo, uso de anticoncepcional oral e de anti-hipertensivo. Demonstrou-se correlação não-linear entre as pressões arteriais sistólicas e diastólicas e a quantidade de álcool consumido. A curvilinearidade foi mais acentuada entre as mulheres, havendo pequena elevação da pressão associada ao baixo consumo que vai crescendo à medida que aumenta a quantidade de álcool ingerida. A intensidade do efeito também foi maior entre as mulheres e sobre a pressão sistólica. O consumo de 30g/d de álcool associou-se com aumentos de 1 ,SmmHg e 2,3mmHg nas pressões arteriais diastólica e sistólica, respectivamente, entre os homens e de 2, 1 mmHg e 3,2mmHg, respectivamente, entre as mulheres. A prevalência de hipertensão arterial sistêmica associou-se com as quantidades de álcool consu111idas, aumentando a partir de 30g/dia. O risco relativo estimado ajustado para toda a amostra, tomando-se como referência o consumo de menos de 30g/dia, foi de 2,9 (I C : 1,4 a 6,0) na faixa de 30g a menos de 60g/dia, e de 2,5 (IC : 1,1 a 5,4) na faixa de consumo a partir de 60g/d. O risco relativo estimado permaneceu significativo entre as mulheres, mas não entre os homens na análise estratificada por sexo. O risco relativo estimado ajustado de hipertensão associado ao abuso (consumo de 30g/d ou mais de álcool) foi maior para as mulheres (2,2; IC : 1,1 a 4,2) do que para os homens (1 ,5; IC : 1,1 a 2, 1). O risco relativo estimado para as mulheres que consumiam a partir de 30g/d comparadas às que consumiam menores quantidades elevou-se para 6,0 (IC : 1,5 a 23,9). Não houve associação entre prevalência de hipertensão arterial sistêmica e dependência ao álcool, aferida através do teste CAGE. As pressões arteriais diastólicas foram maiores entre as pessoas "CAGE positivo" quando analisada toda a amostra. As associações entre a freqüência semanal de consumo de bebidas alcoólicas e o consumo predominante de fermentados ou destilados com a prevalência de hipertensão arterial são explicadas pela quantidade de álcool consumida. Encontrou-se associação do tempo decorrido entre o consumo de bebida alcoólica e a aferição da pressão arterial com a prevalência de hipertensão arterial sistêmica em toda a amostra, independentemente da quantidade de álcool consumida, com um risco relativo estimado de 3,0 (IC : 1,3 a 7,0) para o intervalo de 13 a 23 horas em relação ao consumo há mais de 24 horas da aferição da pressão arterial. Conclusões: A associação entre exposição a bebidas alcoólicas e a pressão arterial e a prevalência de hipertensão é consistente entre os moradores da região urbana de Porto Alegre, de ambos os sexos, com 18 anos de idade ou mais. A associação é não-linear, especialmente entre as mulheres. O consumo de baixas quantidades de etano! em toda a amostra e por sexo não se associou com valores médios de pressão arterial menores do que entre os abstinentes. Nas mulheres, entretanto, o consumo de baixas quantidades associou-se com menor prevalência de hipertensão arterial, sugerindo que, em valores limítrofes para o diagnóstico, a exposição a baixas quantidades possa ter efeito hipotensor. A associação entre exposição ao álcool e a pressão arterial e a prevalência de hipertensão arterial é explicada pela quantidade consumida e não pelo tipo de bebida ou pela freqüência de consumo. O aumento da prevalência de hipertensão em indivíduos que tinham bebido entre 12 horas e 23 horas antes da aferição sugere que parte do efeito hipertensor ocorra durante a depuração do etanol. |