O imaginário não relatado : a morte e o morrer na investigação do óbito infantil em Porto Alegre/RS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Alexandre, Maria da Graça
Orientador(a): Carvalho, Paulo Roberto Antonacci
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/188933
Resumo: Introdução: A mortalidade infantil é um problema de saúde pública que necessita estudos que analisem a complexa conjunção de fatores biológicos, socioeconômicos e assistenciais. Para enfrentar esse desafio, todos os óbitos infantis que ocorrem nos municípios brasileiros são investigados a fim de qualificar as informações sobre esses eventos. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar as visões dos profissionais envolvidos na investigação do óbito infantil sobre a morte e o morrer, no município de Porto Alegre/RS. Métodos: Consiste em um estudo quali-quantitativo a fim de proporcionar uma visão geral acerca da mortalidade infantil no município de Porto Alegre/RS, descrevendo as características da população e do fenômeno envolvido e trabalhando com o universo dos significados, das atitudes, dos valores, das aspirações e das crenças dos profissionais que compõem o Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e dos que atuam na Atenção Primária em Saúde. Os dados foram colhidos por meio da pesquisa documental junto à Coordenação do CMI e à Área Técnica da Saúde da Criança e do Adolescente da SMS; da observação sistemática das reuniões mensais do CMI com registro em diário de campo; da consulta na base de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e da ferramenta VITAIS – Análises em Saúde da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da SMS; e da realização de entrevista individual com os profissionais participantes do estudo, utilizando um roteiro de entrevista semiestruturada e o questionário Escala de Ansiedade Perante a Morte de Templer. Para a análise dos dados qualitativos foi utilizada a técnica da Análise de Conteúdo Temática, que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifique alguma coisa para o objetivo analítico visado. E para os dados quantitativos foi utilizada estatística descritiva. Participaram da pesquisa 18 integrantes do CMI, 15 profissionais da atenção primária em saúde. Resultados: Os integrantes do CMI apresentaram média de idade de 48,89±9,767 anos; 44,4% são casados; 38,9% se declararam sem religião; a média do tempo de formado foi de 25,58±9,72 anos e do tempo de atuação profissional foi de 24,03±9,99 anos; 61,1% são médicos e 27,8% são enfermeiros. No grupo dos profissionais da atenção primária em saúde a média de idade foi de 46,07±11,298 anos; 53,3% são casados; em relação a religião 40% dos entrevistados se declararam católicos; a média do tempo de formado foi de 21,00±11,17 anos e do tempo de atuação profissional foi de 19,13±11,33 anos; 80% são enfermeiros. Foi descrito o processo da vigilância do óbito infantil na cidade de Porto Alegre após a criação do Comitê de Prevenção da Mortalidade Fetal Tardia e Infantil (CMI), analisando os indicadores da mortalidade infantil na perspectiva da evitabilidade do óbito. Os dados da mortalidade infantil em Porto Alegre, no período de 2006 a 2016, demonstram que a mortalidade pós-neonatal apresentou maior tendência de queda do que a mortalidade neonatal, mas ambas estão atreladas às causas preveníveis, sendo potencialmente evitáveis com os recursos disponíveis atualmente. A proporção de óbitos neonatais em relação ao total de óbitos ocorridos entre os menores de 1 ano foi de 68,11%, sendo a maioria no período neonatal precoce. A principal causa de óbito foram as afecções originadas no período perinatal. Em relação ao CMI, foi possível verificar como organizam a base de coleta, a produção e a análise dos dados para abastecer os sistemas de informações, bem como as suas ações na vigilância e análise da evitabilidade dos óbitos infantis. Algumas atribuições estão sendo aprimoradas na elaboração de estratégias de prevenção da ocorrência de novos óbitos evitáveis. Os eixos temáticos estabelecidos a partir dos depoimentos colhidos foram: particip(ação) (intencionalidade e efetividade dos agentes envolvidos), capacitação/formação para a investigação do óbito, percepção e (re)ações frente à morte e ao morrer. Ao analisar a participação dos profissionais, na perspectiva da intencionalidade de suas ações e da sua efetiva contribuição neste processo da investigação, a pesquisa evidenciou diferentes envolvimentos entre os 6 participantes da pesquisa, os quais demonstraram interesse em desempenhar suas funções. No grupo de integrantes do CMI, a efetividade da participação da sociedade civil organizada por vezes é elementar. No grupo dos profissionais da atenção primária, a efetividade da sua ação, está prejudicada pela falta de compreensão do papel que desempenham e pela desarticulação com todo o processo da investigação. A necessidade de realizar algum tipo de capacitação dos profissionais para realizar a investigação do óbito infantil está presente na coordenação e nas reuniões do CMI. Todos os integrantes do CMI informaram não ter recebido capacitação para participar do comitê e somente três profissionais da atenção primária em saúde responderam positivamente. Os entrevistados referiram que, a fim de aprimorar seus conhecimentos para o desempenho de suas funções, realizaram uma ação autodidata através da leitura da legislação e dos manuais elaborados pelo Ministério da Saúde; buscaram capacitação por outras instâncias ou receberam o auxílio de outros colegas. A pontuação encontrada na tabulação dos escores das respostas da Escala de Ansiedade Perante a Morte de Templer demonstrou que mais de 70% dos entrevistados apresentaram ansiedade moderada perante a morte. A média de pontuação dos homens e das mulheres apresentou diferença mínima. O mesmo ocorreu entre os participantes que possuem e os que não possuem crença religiosa. Os indivíduos casados apresentaram elevada ansiedade perante a morte. Acerca das percepções sobre a morte e o morrer, destacamos: a morte como passagem; a morte como perda, gerando dor e sofrimento pela separação; a morte como finitude, com manifestação de tristeza; e a revolta com a morte inesperada. Em relação às reações e às atitudes dos participantes da pesquisa diante da morte e do morrer houve manifestações relacionadas, principalmente, com a sua atividade profissional e, também, em relação a sua atuação no processo da investigação do óbito infantil. Poucos entrevistados referiram encarar a morte com naturalidade. A maioria refere que as suas reações de aceitação da morte dependem da situação na qual a morte ocorreu, aceitando melhor a morte nos casos de doença terminal e rejeitando a morte antecipada. Expressaram reações por meio de sentimentos como a raiva, a tristeza, o medo, a saudade. A tristeza foi o sentimento mais frequente. Ficou evidenciada uma expectativa de encontrar uma forma de enfrentar a morte. Conclusão: Pode-se inferir que a análise da evitabilidade dos óbitos neonatais pode contribuir na avaliação da qualidade da assistência à saúde materno-infantil. A falta de reflexão sobre o tema foi evidenciada, e as percepções dos participantes da pesquisa sobre a morte e o morrer influenciam na vida profissional. Para incrementar a participação dos integrantes do CMI e dos profissionais da atenção primária em saúde no desempenho de suas funções na investigação do óbito infantil faz-se necessário capacitar esses profissionais para a execução de suas atividades específicas no processo da investigação e refletir sobre o tema da morte e do morrer para reintroduzir a morte no seu pensamento. Esta reflexão sobre a morte e o morrer deve ser ampliada para refletir sobre a finalidade do processo da investigação e promover um melhor desempenho das atividades profissionais no futuro. Refletir sobre a morte é refletir sobre a vida e a qualidade dela.