Comparação de tempo de tratamento antimicrobiano curto versus longo para infecções de corrente sanguínea causadas por Pseudomonas spp. ou Acinetobacter spp.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Rodrigues, Rodrigo Douglas
Orientador(a): Rigatto, Maria Helena da Silva Pitombeira
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/234604
Resumo: Introdução: As bactérias gram-negativas são as principais responsáveis por infecções de corrente sanguínea em diversas partes do mundo. A duração ideal de terapia antimicrobiana para essas infecções não está bem definida, especialmente para bactérias não fermentadoras, como Acinetobacter spp. e Pseudomonas spp. O objetivo desse estudo é avaliar mortalidade em 30 dias, mortalidade intra-hospitalar, impacto no tempo de internação e erradicação microbiológica em bacteremias por Acinetobacter spp. ou Pseudomonas spp. tratadas com terapia antimicrobiana curta (≤7 dias) versus longa (>7 dias). Métodos: Conduzimos uma coorte retrospectiva de janeiro de 2014 a outubro de 2019 em dois hospitais universitários em Porto Alegre, Brasil. Foram incluídos pacientes com idade ≥18 anos, com bacteremia por Pseudomonas spp. ou Acinetobacter spp. Foram excluídos pacientes com infecções polimicrobianas, tratamento com antibióticos não suscetíveis in vitro, infecções complicadas (endocardite, osteomielite e abscessos viscerais), mortalidade precoce (<7 dias) e episódios prévios de bacteremia por estas bactérias em menos de 30 dias. Foram avaliadas variáveis demográficas, comorbidades, sítio primário de infecção, gravidade da doença e duração da terapia. Fizemos uma análise univariada comparando os grupos de terapia longa versus curta e avaliando os fatores de risco para mortalidade. Variáveis com P <0,2 foram incluídas em uma análise de regressão de Cox e foram retidas no modelo se P <0,05. Fizemos uma análise de subgrupo para infecções resistentes aos carbapenêmicos e para Pseudomonas spp. e Acinetobacter spp. separadamente. Resultados: Duzentos e cinquenta e três episódios de bacteremias foram incluídos na análise final: 49% eram do sexo masculino, com mediana de idade de 61,3±16,3anos, sendo 51,4% causadas por Acinetobacter spp. e 48,6% por Pseudomonas spp. O tempo mediano de tratamento foi de 6 dias (5 - 7) no grupo de tratamento curto e 12 dias (10 - 14) no grupo de tratamento longo. Mortalidade em 30 dias ocorreu para 17 (24,28%) versus 44 (24,04%) dos pacientes tratados com terapia curta versus longa, respectivamente, P=0,99. Na análise multivariada, terapia curta foi associada como fator de risco independente para mortalidade em 30 dias (aHR 2,04, 95% CI 1,14 – 3,65, P=0,02), quando ajustada para Pitt score (aHR 1,13, 95% CI 1,05 – 1,22, P <0,01), Charlson (aHR 1,17, 95% CI 1,07 – 1,29, P<0.01) e resistência a carbapenêmicos (aHR 2,34, 95% CI 1,32 – 4,47, P=0,01). Mortalidade intra-hospitalar ocorreu para 20 (28,5%) versus 69 (37,7%) dos pacientes tratados com terapia curta versus longa, respectivamente, P=0,19. Na análise multivariada, terapia curta não foi associada à maior risco de mortalidade intra-hospitalar (aHR 1,27, 95% CI 0,76 – 2,12, P=0,35), quando ajustada para Pitt score (aHR 1,10, 95% CI 1,04 – 1,18, P <0,01), Charlson (aHR 1,12, 95% CI 1,04 – 1,21, P <0,01) e resistência a carbapenêmicos (aHR 1,88, 95% CI 1,11 – 3,17, P=0,02). Dos 253 episódios de bacteremia, em 164 (63,2%) deles os pacientes sobreviveram. O tempo mediano até a alta hospitalar após a infecção de corrente sanguínea foi de 9 (6 - 13) dias versus 12 (8,5 - 19,5) dias nos grupos de terapia curta e longa, respectivamente, P=0,01. O isolamento da mesma bactéria ocorreu em 26 (18.6%) dos 140 que tiveram nova hemocultura coletada em 30 dias: 5 (16.1%) no grupo de terapia curta versus 21 (19.3%) no grupo de terapia longa, P=0,80. Na análise de subgrupos para bactérias resistentes a carbapenêmicos, terapia curta não foi associada à maior mortalidade em 30 dias (aHR 1,8, 95% CI 0,93 – 3,46, P=0,08) e intra-hospitalar (aHR1,15, 95% CI 0,63 – 2,1, P=0,64), quando ajustado para Charlson e Pitt score. Na subanálise por bactérias, em infecções por Acinetobacter spp., terapia curta foi associada a maior mortalidade em 30 dias (aHR 2,31, 95% CI 1,11 – 4,81, P=0,03) mas não foi associada a maior mortalidade intra-hospitalar (aHR 1,27, 95% CI 0,65 – 2,48, P=0,48). Já para infecções causadas por Pseudomonas spp., terapia curta não foi associada à maior mortalidade em 30 dias (aHR 1,57, 95% CI 0,60 – 4,1, P=0,36) e intra-hospitalar (aHR 1,05, 95% CI 0,43 – 2,56, P=0,91), quando ajustado para Pitt score, Charlson e resistência a carbapenêmicos. Conclusão: Terapia curta foi associada à maior mortalidade em 30 dias para pacientes com infecções de corrente sanguínea por Acinetobacter spp. e Pseudomonas spp., porém não houve associação com maior mortalidade intra-hospitalar nem diferença em taxas de erradicação microbiológica em 30 dias. Dos pacientes sobreviventes, terapia curta foi associada a menor tempo de internação. Na análise de subgrupos, terapia curta foi associada à maior mortalidade em 30 dias em infecções causadas por Acinetobacter spp., independentemente da sensibilidade aos carbapenêmicos. Aumento de mortalidade em 30 dias não foi observado nas infecções por Pseudomonas spp., quando avaliado separadamente. Portanto, é necessário cautela ao usar terapias de curta duração em infecções de corrente sanguínea causadas por Acinetobacter spp.