Do testemunho de uma experiência na linguagem para uma reflexão enunciativa sobre o fazer linguístico implicado em aprender e ensinar português como língua adicional

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Farias, Bruna Sommer
Orientador(a): Flores, Valdir do Nascimento
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/102209
Resumo: Esta dissertação tem como escopo de análise a enunciação que ocorre em sala de aula de português como língua adicional. A configuração do corpus se dá em forma de um testemunho dado pela pesquisadora, que se colocou como observadora em uma sala de aula da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde alunos, falantes de espanhol, matriculados no curso Básico para Falantes de Espanhol do Programa de Português para Estrangeiros da universidade supracitada, tiveram aulas de português com uma professora brasileira. A noção de testemunho aqui apresentada inspira-se em Giorgio Agamben (2005; 2008) e leva em conta o conceito de “falas em relação” (SURREAUX, 2010). Diante desses fatos de linguagem, primeiramente refletimos sobre a configuração dos dados como resultado do relato de uma experiência: o que significa viver uma experiência de linguagem e relatá-la? Pensando nas relações intersubjetivas que constituem as situações de diálogo em sala de aula de língua adicional, temos, de um lado, o aluno, que se coloca como aprendiz de uma nova língua, que é interrogado por uma nova possibilidade de dizer e ser eu no mundo e, de outro lado, o professor, que se volta para o que vivencia em sua língua materna para ensinar um novo modo de o outro se fazer estar no mundo através da enunciação em português como língua adicional. É essa interlocução fundante em sala de aula que este trabalho pretende interrogar, por meio destas perguntas norteadoras: a) como se dá essa (re)organização de sentidos da própria língua para que o outro signifique a partir de minhas experiências na língua?; b) o professor se encontra em uma dupla instância conjugada: falante de português e professor de português. De que modo se dá, na enunciação, esse transitar entre o olhar do falante para o olhar de um analista da língua? A perspectiva teórica na qual nos inscrevemos para responder tais questões é a teoria enunciativa de Émile Benveniste e sua consideração do homem enquanto fundado na linguagem. Baseados nesses pressupostos, colocamo-nos ao lado de uma antropologia da enunciação (DESSONS, 2006). O corpus textual de pesquisa (FLORES, 2013) definido dentre a produção benvenistiana visa a um percurso que possibilita a reflexão sobre a intersubjetividade, ancorada no dispositivo eu-tu/ele, como um elemento de cultura. Como uma atitude compatível com o olhar que a ancoragem teórica de Émile Benveniste nos inspira, os dados são apresentados já no início do trabalho como forma de buscar explicitar a relação entre falante - categoria antropológica - e analista de linguagem - categoria linguística -, as quais se imbricam de maneira constitutiva no discurso não apenas de professor e aluno em sala de aula, mas da própria pesquisadora, cujo olhar define o objeto de estudo deste trabalho. Estabelecendo a relação entre linguística e semiologia, situamos nosso trabalho em uma semiologia de segunda geração, cuja análise metassemântica se apresenta em um segundo momento de aparecimento dos dados no trabalho, que constitui-se de uma glosa. A análise revela os mecanismos enunciativos presentes: a) o professor parte da sua história de enunciações para promover as explicações sobre a sua própria língua para o aluno; b) o questionamento do aluno de sua língua materna e da língua adicional tem papel determinante na sua inscrição em uma nova experiência de linguagem; c) A aula de PLA é uma aula de interpretância da língua. O trabalho busca contribuir para a compreensão de mecanismos enunciativos que compõem os discursos de professor e aluno em sala de aula de língua adicional, de maneira a instigar uma visão de ensino de língua que leve em conta a língua e a cultura de maneira indissociável.