A formação do administrador (re-visitada) e as demandas sócio-históricas de capacidade gerencial no contexto brasileiro : uma análise crítica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1991
Autor(a) principal: Lovison, Aida Maria
Orientador(a): Handel, Carmen Catarina Silva
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/31230
Resumo: O presente estudo visa clarificar possíveis vinculações existentes entre a formação do administrador e as demandas sócio-históricas de capacidade gerencial ao longo do processo de desenvolvimento nacional. Busca, especialmente, compreender as condições que delinearam a experiência gerencial brasileira nas suas distintas fases, a "patrimonial" a "utilitária" e a "semiúrgica", e de que forma estas condições têm influenciado na determinação do papel "atribuído" ao administrador e dos valores subjacentes ao mesmo. Com isso buscou-se passar de uma análise do fenômeno gerencial enquanto fato político (abordagem centrada nas funções gerenciais e, dessa forma, negando a historicidade do fenômeno), para sua compreensão como elemento de organização da sociedade brasileira e dos seus fundamentos, tendo como pano de fundo as transformações sociais, econômicas, políticas e educacionais ocorridas nesta sociedade. O processo de construção do conhecimento neste estudo fez-se à luz de um conjunto de premissas metodológicas cujas especifidades revelam nossa compreensão sobre o que sejam as visões de mundo, a ciência e o fazer do cientista social e sobre a questão da ideologia e da racionalidade neste fazer científico, respectivamente: 1) As visões de mundo são o resultado da trajetória existencial de cada ser humano, a qual, em nível dos processos de construção do conhecimento, tende a se coadunar com o sistema de valores inerentes a uma abordagem orgânica, holística e ecológica de vida humana próprios do "paradigma holístico". 2) Fazer ciência é um fazer histórico-social de caráter "metódico-processual' (Pinto), cuja finalidade se resume no desejo de dominar o mundo (natural e social), a fim de torná-lo mais favorável à vida humana. 3) A ideologia como forma de "práxis social" e instrumento de crítica situado no plano da dialética existencial pode contribuir para o avanço do conhecimento e transformação da realidade. 4) A racionalidade fundamentada nos princípios de crítica e ação, próprios da "raciona/idade emancipatória" (Giroux, 1986) ou "substantiva" (Ramos 1981; 1983) objetiva criticar o que é restrito e opressor, ao mesmo tempo em que apóia sua ação em favor da liberdade, da justiça e da solidariedade. As influências dessas premissas na compreensão da organização e na concepção dos processos de formação do administrador são caracterizados, dessa forma, por ter este estudo: 1) As organizações - entendidas como totalidades integradas - podem viabilizar o desenvolvimento humano, econômico e social de uma sociedade. 2) 0 ensino como ato educativo é um ato de re-criação intersubjetiva da existência. Nessa condição, é capaz de potencializar a construção de saberes contextualizados, centrados no homem e nas suas raízes sociais e culturais. Com vistas a atingir os objetivos do estudo, desenvolveu-se uma análise sócio-histórica calcada em pesquisa bibliográfica e documental. Realizou-se, também, a análise de um caso, no intuito de clarificar o "papel do administrador", via formação/ensino, no momento atual. Para essa análise foram utilizadas, além da "análise de discursd' (Bardin, 1979) "observações livre? e "entrevista semi-estruturada" (Triviflos, 1987). O estudo revelou que há profundas interconexões entre o fenômeno gerencial e a formação do administrador, particularmente no que concerne a vinculação de ambos com as exigências das etapas evolutivas do capitalismo mundial e com o nível de desenvolvimento tecno-industrial da sociedade brasileira. O sustentáculo comum a esses eventos é um modelo de Estado intervencionista, calcado numa "ideologia desenvolvimentista" (sic) excludente e articulada por interesses associados em favor de uma elite dominante. Em termos de gerência, esse fato localiza-se na evidente ausência de uma "téchne" (criação) gerencial centrada no homem brasileiro e nas suas origens sociais e culturais, e em termos da formação do administrador, na práxis que ainda predomina no ensino de administração em seus distintos níveis. Neste aspecto constatou-se que há uma congruência sistêmico-funcionalista em todo o processo educativo, sustentada, fundamentalmente: a) por uma visão de mundo mecanicista; b) articulada por um paradigma de ciência de mesma natureza, cujos pressupostos filosóficos desvinculam a ciência da existência; c) por uma "ideologia desenvolvimentista" (Covre, 1981; 1983; 1988; Fischer, 1984), expressão dos valores modernos, racionais, capitalistas e tecnoburocráticos (sic), típicos da "ética do lucrd' (Motta, 1983; 1986; 1989) e do agir da "racionalidade instrumental' (Ramos, 1981; 1983) ou "técnica" (Giroux, 1986) baseada nas necessidades de natureza tecno-científica oriunda das leis da natureza; e d) por um tipo de ensino predominantemente diretivo, acrítico e desvinculado das reais condições da sociedade brasileira e, por isso, imbuído de "um estado de consciência transitiva ingênua" (Freire, 1980; 1988; 1989a; 1989b) necessário à reprodução do " status qud' dominante. Ao reproduzir a lógica do modelo capitalista de produção, este tipo de ensino tem favorecido a consolidação do problema mais grave dos cursos de administração: a dicotomia teoria-prática, idéias-ação, idéias-valores, abordagem que dificulta ao administrador/gerente situar-se no espaço geográfico, histórico, social e cultural do seu país e comprometer-se com esta realidade, ou seja, com as reais necessidades da sociedade a que pertence. Considerando-se que o educando tenderá a reproduzir na sua prática (futura) o modelo apreendido na sua formação, as constatações acima são motivos bastante para gerar um profundo desconforto diante da questão em análise.