Corpos em guerra: Trilogia do sofrimento da Enfermagem durante a pandemia de covid-19 no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Dresch, Liciane da Silva Costa
Orientador(a): Rocha, Cristianne Maria Famer
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/279393
Resumo: Introdução: Durante o período pandêmico, o distanciamento social, preconizado mundialmente como medida de segurança contra a transmissão e contágio, foi a principal arma da população. Se apresentava, neste momento, a metáfora do cenário de guerra em que havia um inimigo oculto, imprevisível e potente: países, instituições, enfermeiros e outros profissionais passaram a ser envolvidos metaforicamente num “combate sem quartel” da humanidade contra uma ameaça global. A mídia serviu como fonte importante de interlocução com os desdobramentos dessa guerra, pois, a partir dela, emergiam informações que se relacionavam com certa compreensão de como o restante do mundo se preparava para o enfrentamento da pandemia. Tal produção de regimes de verdade apoiou-se a partir de teorizações sobre discurso, governamentalidade, biopoder, resistência e contraconduta em articulação com o conceito de necropolítica vigente no Brasil. Objetivo Geral: analisar a produção de regimes de verdade a respeito da atuação da Enfermagem em relação à constituição de modos de ser e exercer a profissão na Contemporaneidade, durante a pandemia de covid-19 no Brasil. Método: cunhou-se um percurso metodológico próprio, chamado de Tessitura Analítica de Mídia (TAM), inspirada em alguns elementos da análise de mídia proposta por Rocha (2005) e Fischer (2001) e utilizando teorizações foucaultianas da arqueogenealogia e análise de discurso. Foram selecionadas reportagens publicadas pelos jornais Folha de São Paulo (FSP), El Pais Brasil, BBC News, Portal G1 e Portal Universo Online (UOL) durante os anos de 2020 a 2023. A coleta de dados deu-se através do filtro de busca dos sites dos jornais e portais de notícias, utilizando algumas palavras-chave combinadas, tais quais Enfermagem AND Pandemia, Enfermeira AND Pandemia, Enfermeira AND sofrimento AND Pandemia, Enfermeira AND Covid-19 e Enfermagem AND Covid-19.nOs critérios de inclusão foram reportagens brasileiras, que representassem mulheres da equipe de Enfermagem enquanto tema principal ou em destaque; e que dialogassem com o tema do sofrimento e/ou saúde mental dessas profissionais, a partir do contexto histórico brasileiro. A partir do cruzamento principal realizou-se uma pré-seleção das reportagens, cujos conteúdos foram lidos integralmente. As reportagens que atenderam aos critérios de inclusão e que dialogaram com o objetivo de pesquisa foram agregadas ao corpus de análise, totalizando 179 reportagens elegíveis. Os dados coletados foram sistematizados compondo de três etapas analíticas: A) leitura integral das reportagens selecionadas e aplicabilidade das regras dos Operadores Discursivos da Mídia Impressa (ODMI); B) leitura integral e a captura dos excertos e C) Categorização dos resultados e elaboração de categorias analíticas a partir de fios condutores sociais e culturais. Em relação aos aspectos éticos dessa pesquisa, ressalta-se que se tratou de uma pesquisa bibliográfica e documental, sendo seguidas as diretrizes éticas postuladas na Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. Resultados: os resultados apresentam-se em formato nomeado como uma trilogia que, atravessada pelo histórico da pandemia brasileira, nos apresenta as seguintes discursividades midiáticas: 1) Corpos que cuidam: sobre a missão do cuidado e o sofrimento pandêmico, aponta que o neoliberalismo produz condições nas quais ativamente extrai produtividade do sofrimento, dispondo uma individualização da culpa e da solução do sofrimento; 2) Corpos-escudo: sobre o sofrer e o morrer em tempos pandêmicos, apresenta os acontecimentos da pandemia em uma linha do tempo e, diante disso, conclui que naturalizou- se o sofrimento dessas trabalhadoras de tal forma que seus corpos, ao servirem de escudo na linha de frente de uma guerra, em combate contra o vírus, invisibilizou sua precaridade e as colocou como heroínas e também as dispôs em sacrifício; e, 3) Corpos em luta: sobre resistências e lutas (para além) da pandemia, que apresenta a potência e a necessidade das lutas coletivas como potentes práticas estratégicas para reconfigurar as condições de trabalho da Enfermagem. Considerações Finais: a partir de um olhar crítico sobre o sofrer e sobre os espaços das mulheres no ofício do cuidado durante a pandemia de covid-19, foi possível um exercício crítico de renomear o sofrimento, para além de um constructo individual. Os corpos- escudo destas trabalhadoras exercitam a resistência no exercício diário do cuidado em Enfermagem, sobretudo na intensidade emocional e de desgaste físico durante o processo pandêmico. Apesar das limitações do estudo, relativo ao número diminuto de veículos jornalísticos e portais de notícias selecionados, evidencia-se a compreensão do sofrimento enquanto produto da racionalidade neoliberal com marcas necropolíticas. Espera-se que tais análises contribuam para o campo teórico-metodológico da Enfermagem, ampliando, a partir de constructos e dispositivos pedagógicos, as possibilidades de se (re) pensar o ofício do cuidado a partir de uma perspectiva interseccional e de luta por melhores condições de trabalho.