Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2015 |
Autor(a) principal: |
Sordi, Anne Orgler |
Orientador(a): |
Pechansky, Flavio |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/129703
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Resumo: |
Introdução: O consumo de drogas - em especial o crack - tem se tornado alvo de preocupação em diversos países devido ao impacto que uso desta substância provoca no indivíduo, na família e na sociedade. A complexidade deste tema permeia questões políticas e científicas que buscam uma solução para esse problema, levando em consideração medidas de prevenção e de tratamento para os usuários. Dessa maneira, entender os fatores de vulnerabilidade que predispõem ao consumo desta substância, bem como de que maneira estes fatores interferem na fisiopatologia do desenvolvimento da dependência química se tornou foco de muitas pesquisas. Recentemente, tem-se voltado à atenção para o estudo de alguns marcadores biológicos “candidatos” que possam auxiliar no entendimento dos mecanismos que permeiam o estabelecimento e o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, incluindo a dependência química. Objetivos: Avaliar as alterações nos níveis séricos de BDNF e TBARS durante o processo de abstinência precoce em usuários de crack e sua relação com a gravidade do uso da substância; avaliar a história de trauma na infância e a capacidade de resiliência em usuários de crack em comparação com indivíduos saudáveis; e avaliar como as alterações destes marcadores biológicos, bem como o do NPY, estão associados a intensidade de trauma infantil reportado pelos usuários de crack. Método: Este é um estudo longitudinal que avaliou o total de 218 usuários de crack, 18 anos ou mais, internados no Hospital Psiquiátrico São Pedro, na cidade de Porto Alegre, Brasil. Destes, os primeiros 49 usuários de crack masculinos que aceitaram coletar sangue na baixa e na alta foram selecionados através de uma amostra consecutiva para a avaliação dos níveis séricos de TBARS e de BDNF, e destes 33 também foram selecionados consecutivamente para a avaliação dos níveis séricos de NPY na alta e em jejum. As dosagens séricas dos neuromarcadores não foram realizadas em toda a amostra devido a limitações nos recursos financeiros do projeto. Além disso, foram avaliados 215 controles saudáveis moradores de um bairro da cidade de Canoas, com condições sociodemográficas semelhantes aos casos. Destes, 97 foram selecionados por uma amostra consecutiva e tiveram seu sangue coletado para avaliação dos níveis séricos de TBARS e BDNF. Todos os casos apresentaram teste de urina positivo para cocaína na entrada ao estudo, e todos os controles apresentaram teste de urina negativo para cocaína, além de reportarem não usar a substância. As entrevistas dos casos foram realizadas por entrevistadores treinados e supervisionados semanalmente pelos coordenadores do estudo, e ocorreram entre o 5º e 7º dia de internação. Características do consumo de drogas foram avaliadas através do Addicion Severity Index 6ª versão (ASI-6), a história de trauma na infância foi avaliada pelo Childhood Trauma Questionaire (CTQ) e a capacidade de resiliência foi avaliada através da Escala de Resiliência. Resultados: O artigo 1 avaliou 49 pacientes usuários de crack e demonstrou uma correlação positiva, na alta hospitalar, entre os níveis séricos de TBARS e a gravidade do uso de crack (R=0,304; p=0,04), bem como uma correlação negativa entre os níveis séricos de BDNF e a gravidade do uso de crack (R =-0,359; p=0,01). Além disso, foi verificada uma correlação inversa entre os níveis séricos de TBARS e BDNF na alta (R=-0,294; p=0,004). O artigo 2 avaliou 218 usuários de crack e 215 controles saudáveis e mostrou que usuários de crack reportam níveis mais altos de trauma na infância, exceto por abuso sexual, do que os controles (p<0.001). Escores de resiliência foram mais baixos nos usuários de crack (p<0.01); e apresentar níveis mais altos de trauma na infância, bem como escores mais baixos de resiliência, aumentou a chance de vir a ser um usuário de crack, independentemente do diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O artigo 3 avaliou 33 usuários de crack e demonstrou que o BDNF aumenta durante a abstinência precoce, independentemente dos níveis de trauma na infância. Por outro lado, o TBARS apresentou uma interação significativa entre tempo e trauma (F[2,28]=6,357; p=0.005; ηp2=0,312). Aqueles com baixos escores de trauma diminuíram o TBARS, enquanto aqueles com altos escores de trauma aumentaram o TBARS durante a abstinência precoce. Além disso, os níveis séricos de NPY apresentaram uma correlação negativa com todos os tipos de trauma, exceto por abuso sexual (negligência física r=-0,396; p=0,034; negligência emocional r=-0,391; p=0,036; abuso físico r=-0,427; p=0,021; abuso emocional r=-0,419; p=0,024; abuso sexual r=-0,190; p=0,323). Conclusões: Os achados deste estudo demonstram que usuários de crack possuem escores mais elevados de trauma na infância e escores mais baixos de resiliência, quando comparados a indivíduos saudáveis. As alterações nos níveis de TBARS durante a abstinência precoce parecem ser influenciadas pela intensidade do trauma infantil, e os níveis séricos de NPY parecem estar inversamente correlacionados à intensidade deste trauma. Além disso, os níveis de BDNF e TBARS no momento da alta parecem estar associados à gravidade do uso de crack. A intensidade do trauma infantil e a gravidade do uso de crack parecem ser fatores que influenciam os mecanismos neurobiológicos relacionados ao desenvolvimento da dependência desta substância, bem como ao processo de abstinência. Os resultados apresentados nos 3 artigos se complementam no sentido de proporcionar uma maior compreensão das inter-relações entre fatores psicossociais de proteção e vulnerabilidade para a dependência de crack e as alterações neurobiológicas associadas tanto à história de trauma na infância, quanto à gravidade do uso de drogas. Dessa forma, esses achados podem contribuir para a construção do conhecimento a respeito dos processos que medeiam o desenvolvimento da dependência química. |