Efeito do território periférico no trabalho escolar : análise de duas escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Moreira, Simone Costa
Orientador(a): Gandin, Luis Armando
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/172459
Resumo: Esta tese investiga o efeito do território periférico sobre o trabalho escolar em duas escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Tendo como referencial metodológico a análise relacional (APPLE, 2006) e a etnografia crítica (CARSPECKEN, 2011), foi realizada uma pesquisa de orientação etnográfica, abarcando em seus procedimentos metodológicos: observações nas escolas e entrevistas semiestruturadas com professores e equipes diretivas. O trabalho escolar realizado na periferia urbana de Porto Alegre, nos casos estudados, consiste, primeiramente, na tentativa de (trans)formar o habitus (BOURDIEU; PASSERON, 2010) dos alunos empobrecidos no habitus escolar, especialmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O escasso capital cultural (BOURDIEU; PASSERON, 2010), visto através da lógica do déficit, dos estudantes que chegam aos anos finais do Ensino Fundamental, é apontado pelos docentes como empecilho para a aprendizagem dos conteúdos escolares, justificando uma prática pedagógica baseada na ética contextualista (VAN ZANTEN, 2001). Igualmente, a origem social dos estudantes adolescentes, a cultura juvenil da periferia e a sua socialização em comunidades com presença do tráfico de drogas, são apresentadas como obstáculos para os estudos. O trabalho escolar é marcado fortemente pela descontinuidade. As representações sociais dos professores sobre seus alunos combinam, simultaneamente, a compreensão sobre a população empobrecida enquanto vítima e culpada de sua situação. Entretanto, indiferentemente dessa visão, os alunos e suas comunidades são apresentados pelos docentes como deficitários de um trabalho escolar que atenda suas especificidades. Outro aspecto destacado no trabalho escolar nas periferias urbanas, como uma “presença ausente” (APPLE, 2003), são as discussões sobre raça/etnia. Outrossim, o senso comum escolar está carregado do mito da omissão parental e da recusa em assumir responsabilidades pela educação dos estudantes no que os docentes chamam de transferência para a escola de um trabalho que deveria ser familiar. O senso comum escolar contém também uma forte tendência a generalizar as situações de famílias que vivem em condições de extrema dificuldade, característica de determinadas configurações familiares (LAHIRE, 2008), para descreverem o conjunto das famílias que a escola atende, ignorando sua heterogeneidade. O processo de desescolarização da escola e gestão da pobreza (ALGEBAILE, 2004; PEREGRINO, 2006), juntamente com o efeito do território sobre a organização escolar, sobre o senso comum escolar e sobre as propostas pedagógicas institucionais, configuram o trabalho escolar nas instituições de ensino que compõem esse estudo. O efeito do território periférico nas duas escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, sem o respaldo de uma proposta pedagógica com pressupostos densos sobre as relações entre educação e pobreza, parece estar apontando para a centralidade da gestão da pobreza no trabalho escolar, reconfigurando, cada vez mais, essas escolas municipais como “escolas pobres para os pobres”.