Desastres, vidas, saúde e humanitarismo pós-Idai : uma enografia sobre uma cidade fustigada pelo ciclone (Beira, Moçambique)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Fumo, Ludomilo Raulino Carlos
Orientador(a): Victora, Ceres Gomes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/258948
Resumo: A partir do olhar da antropologia social, a presente pesquisa apresentada em formato de tese destaca os acontecimentos ligados às tempestades ciclônicas, na Beira, em Moçambique. O seu objetivo principal foi conhecer e analisar as demandas de saúde e doença e os debates sobre “desastres” socioambientais, vividos pelas populações periurbanas da cidade da Beira depois do ciclone Idai em 2019. Este estudo explorou a chegada desse fenômeno climático que resultou em profundas transformações no cotidiano da população afetada, e as formas locais adotadas para lidar com o desastre. O argumento sobre o qual se constrói a tese é de que o Ciclone Idai não foi um fato isolado na história das comunidades atingidas. A etnografia realizada possibilitou participar de debates mais amplos sobre os desastres e, neste processo, foi possível reafirmar que este tipo de eventos afeta, na sua maioria, a população em situação de vulnerabilidade social. No caso do Idai, observou-se uma agudização da situação de vulnerabilidade, que caracteriza a maioria da população periurbana da Beira, um povo que, na sua maioria, estabeleceu-se na cidade e nos seus arredores por meio de movimentações campo cidade na procura de estabilidade financeira, que escasseia nas zonas de origem, nos distritos do interior e em outras províncias. A pesquisa foi de caráter etnográfico e recorreu a entrevistas semiestruturadas com os atingidos pelo ciclone. A observação foi também um recurso usado na produção de dados de pesquisa, tendo sido importante na construção do entendimento de que o desastre provocado pelo Idai impactou fortemente as populações da Praia Nova e de Munhava-Matope pelos danos e perdas humanas e materiais, como é o argumento da tese. O desastre causou ferimentos e doenças, principalmente hídricas, pelo consumo de águas contaminadas por diversos dejetos e pela procriação excessiva de mosquitos nos locais atingidos, o que levou à participação intensa de Organizações Não Governamentais ligadas à saúde para mitigar estas doenças, de modo que não se desse um surto com óbitos. O recurso imediato, durante o período em que a inundação era forte e as águas fustigavam a cidade, com carências de alimentação e falta de serviços de saúde eficazes, foi a condução da população para centros de acomodações implementados pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução de Riscos de Desastres, em representando o Estado, que por fim mediou o reassentamento das populações que optaram por sair das áreas de risco para locais seguros e o fornecimento de kits com certos materiais e loiça básicas para os que insistiam no retorno às suas antigas casas no período posterior ao evento. Todavia, com o fim do apoio humanitário, as pessoas atingidas, em grande número, conseguem manter suas vidas pelo retorno às atividades que faziam antes do evento.