"As meninas são mais maduras", "os meninos são infantis": regulação de gênero no I ciclo e suas interfaces nas aulas de Educação Física

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Assis, Amanda Dória de
Orientador(a): Wittizorecki, Elisandro Schultz
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/245550
Resumo: Esta tese discute gênero no I ciclo do Ensino Fundamental, em especial, analisando o modo pelo qual as meninas vêm se produzindo nesta etapa de ensino e suas interfaces nas aulas de Educação Física. Para tanto, foi realizado um estudo com trabalhadoras em educação que atuam no I ciclo (os três primeiros anos do ensino fundamental), quais sejam: orientadora educacional do I ciclo, docentes referências, docentes especializadas de Educação Física e docente especializado de Arteseducação de escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, de perspectiva pós-crítica em educação, que tem como instrumentos de pesquisa entrevistas. A partir disso, o argumento geral dessa tese é que no currículo do I ciclo, mais do que alfabetização letrada, aprende-se no ciclo alfabetizador uma leitura binária de gênero projetada pela racionalidade ocidental moderna. Isso se efetiva na constituição binária dos espaços, dos materiais pedagógicos e escolares e pelo controle das/os estudantes, que por meio de ofensas misóginas e homofóbicas controlam a manutenção da heteronormatividade. Nesse cenário, naturalizam-se ideias como ―as meninas são mais maduras‖ e ―os meninos são infantis‖. Como efeito, naturaliza-se também que as meninas sejam mais responsabilizadas desde pequenas pelo trabalho doméstico, também são vistas desde cedo como sexualizadas; enquanto os meninos são vistos como naturalmente mais bagunceiros e irresponsáveis. Além dessas problematizações, a partir de análises interseccionais, pude compreender que por meio de diferentes mecanismos – piadas, humilhações, deslegitimação da cultura afro-brasileira na escola– que os modos de subjetivação são diferentes entre meninas negras e meninas brancas. A Educação Física enquanto componente curricular do I ciclo apresenta-se como uma disciplina em que as diferenças de gênero são visíveis, pois é um espaço em que os corpos ficam mais expostos. Também perpassam as aulas as relações de saber-poder relacionadas a certas práticas corporais que legitimam os meninos a se sentirem mais autorizados a fazer as aulas e a estabelecer disputas com as professoras acerca do que deve ser trabalhado em aula. A partir do que foi apresentado até então, compreendo o quanto desde o I ciclo há uma retórica de enunciados e práticas que põe em marcha regulações de gênero, que reitera a matriz heterossexual. Assim, no ciclo alfabetizador aprende-se uma leitura generificada.