Os achados qualitativos de ressonância magnética do encéfalo são maus preditores de transtornos psiquiátricos em pacientes com epilepsia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Neves, Kelly Ribeiro
Orientador(a): Bianchin, Marino Muxfeldt
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
MRI
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/250553
Resumo: Base teórica: Existem vários estudos na literatura que demonstram a associação entre epilepsia e transtornos psiquiátricos tanto antes quanto após o início das crises. Estes sugerem um compartilhamento de mecanismos comuns, caracterizados por alterações funcionais e estruturais que afetam um mesmo circuito - o Sistema Límbico - que é, em parte, composto pelas estruturas do lobo temporal mesial, local de epilepsia focal mais frequentemente encontrado em nosso país. Essa relação bidirecional sugere uma suscetibilidade subjacente comum à epilepsia e distúrbios afetivos, nos níveis molecular, celular e anatômico e as alterações funcionais e estruturais de uma doença podem desencadear a outra. Diversas alterações de neuroimagem, genéticas e moleculares, comuns a ambas as condições, têm sido descritas, às vezes conflitantes, e precisam ser melhor conhecidas. Alguns autores demonstraram associação entre transtornos psiquiátricos e crises epilépticas em pacientes com alterações anatômicas na ressonância magnética (RM) do cérebro, principalmente em estudos de pós-processamento, incluindo volumetria, perfusão e espectroscopia. A epilepsia temporal mesial é a epilepsia focal refratária a drogas mais comum e também uma das mais potencialmente tratáveis cirurgicamente. A condição interictal com a associação de comorbidades psiquiátricas também é importante na qualidade de vida e prognóstico dos pacientes. Em relação ao importante impacto dessas comorbidades psiquiátricas entre pacientes com transtorno epiléptico e a disponibilidade limitada de ferramentas de pós-processamento, estudamos a possibilidade de prever transtornos psiquiátricos em pacientes com epilepsia do lobo temporal através da análise de visual qualitativa dos exames de RM, que poderiam ser facilmente detectados em nível ambulatorial e, portanto, facilitariam e acelerariam o manejo clínico-terapêutico. Objetivo: Estudar a relação das alterações visuais qualitativas no estudo de RM de pacientes com epilepsia do lobo temporal (ELT), com e sem transtornos psiquiátricos, bem como avaliar uma possível predição do desenvolvimento dessas comorbidades, o que poderia impactar em uma conduta clínico-terapêutica efetiva e possivelmente mais previsível desses pacientes. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo. Foram selecionados pacientes diagnosticados de acordo com a Classificação de Síndromes Epilépticas da ILAE por critérios clínicos, EEG e neuroimagem, submetidos à Entrevista Clínica Estruturada para DSM-IV (SCID) e à RM, realizada em equipamentos Phillips de 1.5T e 3T. Esses participantes foram divididos em três grupos: 1) epilepsia do lobo temporal mesial; 2) epilepsia do lobo temporal não mesial. Em seguida, esses dados foram cruzados com características epidemiológicas, eletrofisiológicas e psiquiátricas e analisados. Os pacientes precisavam atender aos critérios de elegibilidade, incluindo pelo menos um exame de ressonância magnética (RM) e entrevista psiquiátrica - SCID-IV disponíveis. As análises foram realizadas por um neurorradiologista e um epileptologista clínico experientes. Resultados: A análise estatística dos dados coletados foi realizada usando o software SPSS (IBM Corp. Released 2013. IBM SPSS Statistics for Windows, Versão 21.0. Armonk, NY: IBM Corp). O nível de significância foi estabelecido em p<0,05 em todas as análises. Noventa e um pacientes foram incluídos e divididos em dois grupos: epilepsia do lobo temporal mesial / grupo 1 (42 pacientes - 46,2%) ou epilepsia outra que não do lobo temporal mesial / grupo 2 (49 pacientes - 53,8%) e aqui foram agrupados os pacientes classificados como epilepsia lateral e extratemporal. Os pacientes com ELT mesial foram subdivididos de acordo com a lateralização de sua manifestação patológica (direita ou esquerda). Posteriormente, foram avaliadas as relações dos grupos com critérios clínicos como idade, duração da epilepsia, sexo, características das crises, controle das crises, história familiar, SCID-IV (transtornos psiquiátricos, dependência de drogas, transtornos de ansiedade e humor) e descargas interictais de EEG/VEEG. Não encontramos diferenças estatisticamente significativas no estudo qualitativo das imagens de RM dos grupos avaliados, conforme os critérios clínicos avaliados. Conclusão: Nosso estudo não encontrou valores que permitam conclusões definitivas, portanto podemos sugerir que pacientes com exames de RM visualmente alterados e inalterados não apresentaram diferença estatística significativa em relação à associação com os diversos transtornos psiquiátricos avaliados, mesmo sendo analisados por um neurorradiologista e epileptologista clínico experientes. No entanto, houve uma possível sugestão de associação, embora não estatisticamente significativa, entre transtorno de ansiedade e alteração anatômica no hipocampo direito. Estudos adicionais com um número maior de pacientes são necessários para esclarecer essa possibilidade de relação. A grande variedade de achados pode ser provavelmente atribuível à base patológica heterogênea investigada e a uma grande variedade de métodos diagnósticos. A revisão da literatura sobre estudos de imagem levantam questões que levam a níveis “baixos” de evidência. Os tamanhos das amostras são pequenos e a randomização e o cegamento são incomuns e uma ligação entre a base patológica, os achados de imagem e os padrões clínicos geralmente é incerta. Além disso, a tecnologia ainda não resiste a tempo suficiente para permitir estudos com acompanhamento adequado.