Cristianização, debates teológicos e colonialismo : a Abissínia Cristã a partir das Gadl de Mabâ Sĕyôn e Gabra Krĕstôs

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Cunha, Vitor Borges da
Orientador(a): Teixeira, Igor Salomão
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/211454
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar o contexto político-religioso da Abissínia Cristã no século XV a partir das vidas de dois santos: Mabâ Sĕyôn e Gabra Krĕstôs. A fonte que contém suas vidas, The lives of Mabâ Sĕyôn and Gabra Krĕstôs, foi traduzida e publicada em 1898, fruto do trabalho de Ernest Alfred Thompson Wallis Budge, intelectual britânico que trabalhou junto ao British Museum. Por se tratar de uma tradução, foi importante analisar não apenas o conteúdo do documento, mas também o contexto de produção dessa versão do original. As marcas do colonialismo estão presentes na obra, alterando e/ou limitando a compreensão do original. Através de uma abordagem póscolonial, o processo de tradução foi analisado, enquadrando a obra como um instrumento de colonização europeia no continente africano. Feita essa análise, o trabalho foi direcionado para duas questões específicas que transparecem nas vidas desses dois monges: as expansões cristãs em direção ao sul do Rio Abbay, especialmente para o Damot; e a questão do duplo sabbath. Sobre a primeira questão, a fonte auxilia na interpretação (1) da forma com que as expansões meridionais ocorreram, empreendidas especialmente após a ascensão da dinastia salomônida (c.1270); (2) do período em que ela ocorreu; (3) dos povos afetados por elas; e (4) do grau de sucesso que esse processo alcançou ao final, no século XVI – exitosa enquanto domínio governamental, mas controversa no que tange à alterações culturais das populações locais. Sobre a segunda questão, a fonte traz luz ao período após o Concílio de Debre Metmaq (1450), presidido por Zarʾa Yāʿeqob (1434-1468) e que tornou a preservação do sábado e do domingo como parte da ortodoxia abissínia, prática esta já defendida na Abissínia Cristã em períodos anteriores, mas que angaria forças após o início do movimento eustatiano, fundado por Ēwosṭātēwos no século XIII e que, no século XV, ameaçava seriamente a unidade da Igreja Ortodoxa da Abissínia e do próprio território salomônida. Apesar da oficialização, grupos dentro da Igreja Ortodoxa da Abissínia se opuseram à decisão. Dentre eles, a rede monástica ligada a Dabra Asbo/Libānos, produtora da fonte aqui analisada. Através de uma análise qualitativa de trechos que estão relacionados à preservação do sabbath e que, na tradução de Ernest Budge, não tinham diferença, foi concluído que o documento defende a preservação apenas do domingo e condena, sutilmente, a preservação do sábado.