Luciferiano Criador: o complexo do demiurgo literário e a obra de arte como transgressão entre Inferno, de Dante, a poética de William Blake e A casa que Jack construiu, de Lars von Trier

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Pauka, Gabriela Sá
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/217157
Resumo: A pesquisa propõe uma leitura do filme A casa que Jack Construiu (2018), de Lars von Trier, a partir do diálogo entre a Literatura e o Mal, mas mais especificamente de três de seus arquétipos: a demiurgia, a criação pelo mal e a viagem infernal. O filme, baseado na exposição de cinco dos assassinatos cometidos por um serial killer, delineia uma espécie de ensaio sobre a relação entre a arte e a perversidade ao mesmo tempo em que radica no solo árido da contemporaneidade ecos corrompidos das antigas ambições do grande gênio artístico. Assim, pretendeu-se investigar o modo como o filme opera a transcriação intermídia dos arquétipos literários, já que a distorção performada por Jack, protagonista, e Trier, cineasta, se imprime como atestado da angústia criativa da contemporaneidade. Os textos literários transcriados no filme são Inferno, segmento d’A Divina Comédia (1472) de Dante Alighieri e os poemas “Cordeiro” (“The Lamb”) e “O Tygre” (“The Tyger”), de Canções da Inocência e da Experiência (Songs of Innocence and of Experience, 1789) de William Blake. O filme de Trier, desse modo, apropria-se dos poemas e os distorce em um processo de bricolagem fílmica, produto próprio da criação pós-moderna. Os eixos metodológicos para a investigação são os Estudos Interartes, chancelados por Claus Clüver (1997, 2006, 2012); a perspectiva da criação como transcriação, desenvolvida por Haroldo de Campos (2015); as asserções de Linda Hutcheon (1947) sobre as noções de criação na pós-modernidade e, finalmente, as contribuições de Ingeborg Hoesterey (2001) sobre o pastiche cinematográfico. Convém ressaltar que as análises, mesmo interdisciplinares, estão vinculadas à tradição literária ocidental e à conceituação de pervivência para a Literatura desenvolvida por Haroldo de Campos (2015). Ou seja, na potencialidade de um original desdobrar-se por diversas temporalidades, ultrapassando as condições histórias de sua gestação. Sendo assim, buscou-se por momentos de “desfamiliarização”, por gestos anacrônicos, por visões de empréstimos e tudo mais que possa tornar claras as referências trierianas e as razões pelas quais o vínculo com o cânone literário é incontestável. Nesse sentido, a hipótese para o gesto mefistofélico se estabelece: desejou-se franquear a deformidade da leitura de Jack como possível alegoria do criador contemporâneo que, aterrado pelas referências canônicas, está mais propenso a depreender delas argumentos que corroborem com sua equivocada perspectiva histórica. Como produto final, a pesquisa instaura o sentido da possibilidade, de simbiose ilimitada que floresce e avoluma o espaço interartístico. Desejou-se, portanto, dialogar com a concepção de tradição literária como base sólida que autoriza as criações contemporâneas além de advogar pela instância disruptiva, de sentindo ilimitado, da pervivência literária.