A interferência linguística em redações de venezuelanos estudantes de português na fronteira Brasil / Venezuela

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Mota, Fabricio Paiva [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/192066
Resumo: O contato linguístico é a relação entre duas ou mais línguas em uma mesma localidade, as quais compartilham espaços comuns, tais como áreas de comércio e de educação, principalmente em áreas fronteiriças. A história da língua portuguesa demonstra que ela sempre esteve em contato com línguas indígenas, africanas e de imigrantes. No cenário roraimense, existem duas fronteiras: ao norte, Pacaraima/Brasil e Santa Elena/Venezuela e ao leste, Bonfim/Brasil e Lethem/Guiana. O objetivo geral desta tese é analisar as interferências linguísticas presentes em produções textuais de venezuelanos aprendizes de português na fronteira Brasil/Venezuela. Os objetivos específicos são (a) identificar, classificar e descrever os tipos de interferência; (b) traçar o perfil sociodemográfico do estudante de português; (c) relacionar os dados das interferências com o perfil sociodemográfico dos informantes; e (d) traçar o perfil sociodemográfico das professoras do curso. Esta tese se fundamenta em Weinreich (1974 [1953]), Silva-Valdivia (1994), Elizaincín (1992), Blas Arroyo (1991) e Siguan (2001) para definir interferência como a influência de uma língua A sobre uma língua B, o que resulta em estruturas que não pertencem ao sistema gramatical de nenhuma das línguas envolvidas. A coleta dos dados aconteceu entre os anos de 2015 e 2017 em um curso de português para estrangeiros na fronteira Brasil/Venezuela. O corpus foi composto por 47 redações escritas por 23 venezuelanos. Do ponto de vista sociodemográfico, o informante é majoritariamente do sexo feminino entre 23 e 58 anos, possui nível superior, reside na Venezuela, estuda português há aproximadamente 2 anos e gosta do idioma. A análise aponta que as interferências (espanhol → português) ocorrem mais entre os venezuelanos que possuem parentes brasileiros do que os não possuem nenhum tipo de parentesco. No que se refere às seis professoras, têm idade entre 21 e 36 anos, moram em Pacaraima e ensinam português para estrangeiros há dois anos. Na análise, agrupamos as interferências em sete tipos, a saber: flexão, contração, radical, nominalização, betacismo, nasalidade e mudança de gênero. Os casos que tiveram pouca frequência foram incluídos em outros tipos de interferência (pronome, preposição, substantivo, advérbio, mudança de gênero, síncope e concordância). Do ponto de vista linguístico, a interferência na flexão é a mais recorrente com 92 ocorrências (33,3%) e o informante combina o radical do português com a desinência do espanhol. Levando em consideração o cenário multilíngue apresentado entre Brasil/Venezuela, em que as fronteiras geográficas nem sempre correspondem com as linguísticas, concluímos que o processo de formação das interferências ocorre da seguinte forma: nos verbos, o radical português se combina com a desinência espanhola; e nos nomes, o radical espanhol se combina com a desinência portuguesa. Classificamos algumas ocorrências como radical ou desinência híbridos porque o informante combinou elementos tanto do português como do espanhol no radical ou na desinência. Face ao exposto, esta tese tem alguns desdobramentos, tais como políticas linguísticas em áreas de fronteiras e elaboração e produção de material didático para falantes de espanhol.