Cartografias íntimas em reconstrução: as relações entre luto e deslocamento em Rakushisha, Azul corvo e Todos os santos, de Adriana Lisboa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Guerra, Manoelle Gabrielle
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/244752
Resumo: A presente tese tem como objetivo discutir a relação existente entre luto e deslocamento em três romances de Adriana Lisboa – Rakushisha (2007), Azul corvo (2010) e Todos os santos (2019) – considerando a forma como o deslocamento se articula ao processo de luto, proporcionando um afastamento do lar que permite ao sujeito reorganizar seus afetos e compreender melhor sua relação com o espaço de origem. Essa proposição se sustenta na ideia de que a morte de um ente querido, por se configurar como um trauma, promove uma desestabilização do universo do enlutado, instaurando uma segunda perda: a do próprio lugar no mundo, após uma desterritorialização interior decorrente da morte do outro. Consequentemente, tal experiência de desajuste impacta a relação do indivíduo com o espaço que habita, uma vez que a ausência do falecido instaura uma estraneidade no interior desse lar, demandando um afastamento que possibilite o repensar dos vínculos ali estabelecidos. Assim, a discussão que aqui se organiza parte dos estudos acerca do luto desenvolvidos por Sigmund Freud (2011) e Colin Murray Parkes (2009, 1988), perpassa a proposição da perda de lugar elaborada por Maria Rita Kehl (2011) e articula-se, no domínio da espacialidade, à conceituação de estraneidade, de Nestor García Canclini (2010), e ao modo como a memória sustenta uma relação do indivíduo com os espaços ocupados, questão sobre a qual se debruçou Maurice Halbwachs (2006). No interior desse percurso, os romances analisados propiciam a observação de processos de luto que levam as personagens a se colocarem em trânsito e, por meio do enfrentamento de outros espaços, refletirem sobre sua relação com o lar e seu pertencimento outrora fraturado pela perda. Tal movimento entrelaça-se, posteriormente, aos trabalhos da memória e engendra uma reconstrução do passado, pelo domínio da palavra, relação que será pensada à luz das discussões em torno da memória traumática e do modo como se constrói a narração dessa experiência. É por meio do processo de enfrentamento da perda e de tradução dessa dor em linguagem que se torna possível a essas personagens uma reavaliação de suas vivências enquanto sujeitos e das transformações a elas impostas pelo luto e pelo deslocamento, buscando a reconstrução de suas subjetividades.