Impacto da indústria farmacêutica nos ensaios clínicos que comparam anestesia inalatória versus anestesia intravenosa: pesquisa sistemática quantitativa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Gameiro, Mariel Orsi [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/149984
Resumo: Introdução: Pesquisas científicas sempre foram essenciais ao desenvolvimento da medicina no decorrer da história da humanidade, considerando seu caráter investigador e inovador para diversos tratamentos das doenças existentes. Juntamente ao crescimento da produção científica mundial estão as indústrias farmacêuticas, que atualmente, configuram-se grandes protagonistas financeiras, principalmente de ensaios clínicos na área da saúde. Contudo, é necessário analisar cuidadosamente a condução desses estudos, pois muitas vezes o interesse econômico e capitalista se sobrepõe à ética, podendo apresentar resultados tendenciosos e favoráveis a determinado medicamento fabricado pela indústria patrocinadora. Nesse sentido, ao longo da história mundial, alguns estudos patrocinados foram questionados quanto aos métodos utilizados pelos pesquisadores, e principalmente quanto aos resultados obtidos, detectando-se uma quantidade impressionante de estudos fraudulentos publicados em revistas médicas de alto impacto. Objetivo: Avaliar se há impacto da indústria farmacêutica nos resultados de ensaios clínicos randomizados que compararam a eficácia e segurança da utilização de anestesia inalatória versus anestesia intravenosa em cirurgia de revascularização do miocárdio com circulação extracorpórea e intracorpórea. Métodos: Pesquisa sistemática quantitativa de ensaios clínicos randomizados (ECRs) que avaliaram a eficácia e segurança da anestesia intravenosa (e.g. propofol, fentanil) quando comparada a anestesia inalatória (e.g. sevoflurano, isoflurano, desflurano) em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com ou sem circulação extracorpórea. Os estudos foram obtidos das seguintes bases de dados eletrônicas: PubMed, EMBASE, LILACS e CENTRAL. A data da última busca foi em 02 de Março de 2016. Dois revisores independentemente selecionaram os estudos, extraíram os dados dos mesmos e, avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos. Além disso, os estudos foram divididos em dois grupos: estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas e, estudos não patrocinados pela indústria. Resultados: 12 estudos com um total de 1.845 pacientes foram incluídos, sendo seis estudos (n= 1.209 pacientes) patrocinados por indústrias farmacêuticas e seis estudos (n= 640 pacientes) não patrocinados por indústrias. Em relação a avaliação do risco de viés, a maioria dos estudos foi dividido uniformemente entre baixo risco de viés e risco incerto de viés, independentemente se patrocinados ou não por indústrias farmacêuticas. Metanálise com quatro ECRs sugere uma redução do risco de mortalidade com o uso da anestesia inalatória quando comparada ao anestésico intravenoso no grupo dos estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas [Risco relativo (RR) 0.45, 95% intervalo de confiança (IC) 0.23 à 0.89; I2 = 2%; p=0.02; quatro estudos, n = 927 pacientes]. Entretanto, na metanálise considerando os estudos não patrocinados pela indústria, não houve diferença estatisticamente significante entre o uso da anestesia inalatória quando comparada à anestesia intravenosa em relação ao risco de mortalidade (0.21 RR, 95% IC 0.01 à 4.24; I2 = não aplicado; p=0.31; três estudos, n = 493 pacientes). Resultados apresentaram-se semelhantes em relação ao uso de inotrópicos, ou seja, embora ambas metanálises considerando os estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas (RR 0.71, 95% IC 0.48 à 1.06; I2 = 27%; p =0.09; três estudos, n = 382 pacientes) e os estudos não patrocinados pela indústria (RR 0.77, IC 95% 0.47 à 1.26; I2 = 74%; p=0.30; seis estudos, n = 615 pacientes) não apresentaram diferenças estatisticamente significantes entre o uso da anestesia inalatória quando comparada ao da intravenosa, houve uma maior redução de risco no grupo inalatório sobre o uso de inotrópicos nos estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas (29%) quando comparado aos estudos não patrocinados pela indústria (23%). Conclusões: Essa pesquisa demonstrou uma tendenciosidade na estimativa da magnitude dos efeitos em ensaios clínicos patrocinados por indústrias farmacêuticas quando comparados aos estudos não patrocinados por indústrias farmacêuticas sobre a eficácia e segurança da anestesia inalatória versus a intravenosa em relação à mortalidade e ao uso de inotrópicos em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com ou sem circulação extracorpórea. Entretanto, nós não podemos descartar a possibilidade de viés devido ao número discrepante de pacientes nos estudos incluídos entre os dois grupos avaliados (i.e. estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas e estudos não patrocinados pela indústria), além dos achados dessa revisão serem limitados à apenas uma questão clínica na área da Anestesiologia; outras áreas da saúde devem ser exploradas.