Indígenas na Escola Médica no Brasil: experiências e trajetórias nas universidades federais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Luna, Willian Fernandes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/202867
Resumo: A trajetória do ensino superior no Brasil, em especial, da graduação em medicina, é marcada pela restrição a um grupo privilegiado da população. Nas últimas duas décadas, a partir de reinvindicações do movimento indígena, ações afirmativas foram sendo desenvolvidas para garantir o direito de acesso a essa população, o que possibilitou o ingresso de indígenas em escolas médicas no país. Esta pesquisa teve como objetivo compreender as experiências e trajetórias de indígenas que cursavam a graduação em medicina em universidades federais brasileiras, entre os anos de 2018 a 2020, a partir de suas narrativas. Buscou-se compreender as estratégias que possibilitaram o ingresso nos cursos; analisar as vivências destes estudantes no processo de ingresso e permanência; reconhecer o encontro entre as suas vivências histórico-culturais e os conhecimentos ofertados na graduação; descrever projetos e perspectivas de atuação futura. A pesquisa foi de abordagem qualitativa, com uso de questionário, entrevistas narrativas individuais, rodas de conversa e diário de campo. Identificou-se 43 cursos de medicina com presença de indígenas, realizando-se encontros presenciais em 14 escolas médicas, com participação de 40 estudantes, de 25 diferentes povos indígenas. Realizou-se análise temática de conteúdo, com definição das categorias: acesso e políticas de permanência na universidade; alteridade na escola médica; sofrimento e resiliência; identidade e coletividade; experiências na e para a saúde indígena. Por meio dos encontros presenciais, ficou estampada a multiplicidade de experiências e trajetórias, característica marcante dos universitários indígenas nas instituições. O ingresso nos cursos se deu quase que exclusivamente por ações afirmativas. Percebe-se que a graduação em medicina oferta uma formação baseada na biomedicina e na exclusão de outras racionalidades, dentre estas, as indígenas. A escola médica está composta por um grupo pouco acolhedor aos indígenas, com relações marcadas por posturas de preconceito, intolerância e tutela. Geram-se, assim, sofrimentos e perdas, de modo que tais estudantes buscam elaborar estratégias de resiliência para sobreviver às adversidades e permanecer no curso. A vivência universitária provoca o movimento de se afirmarem enquanto coletivo de povos indígenas e possibilita assumirem o protagonismo em construções possíveis. O curso de medicina não desenvolve aspectos relacionados à saúde indígena, todavia, a presença dos indígenas provoca discussões e possibilidades para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao tema. Os indígenas mantêm suas relações com as comunidades de origem e possuem expectativas de atuarem em atividades relacionadas à saúde indígena após a graduação. Uma outra questão a ser destacada é a possibilidade de trazerem contribuições para a necessária transformação da escola médica. Por fim, as experiências e as trajetórias desses estudantes na escola médica revelam construções na direção de seu protagonismo e de possíveis e desejáveis autorias indígenas no sentido acadêmico, científico, político, epistemológico e para as práticas de cuidado em saúde.