HOMENS "NO LAR" OU HOMENS "DO LAR"?: forma de vida do ator homem "dono de casa" na cultura brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Oliveira, Raíssa Medici de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/180372
Resumo: Após notável propagação da figura actorial homem “do lar” empreendida pela mídia estrangeira nas últimas décadas, começou-se também a observá-la na cultura brasileira, sobretudo em textos da cultura de massa. Apesar de vista como “novidade” – ou justamente por isso –, muito pouca atenção foi dada, até o momento, à investigação dessa figura no meio acadêmico brasileiro. Sendo assim, compreendeu-se a proeminência de fazê-lo e, para tanto, compôs-se um córpus de pesquisa constituído por um texto publicitário, um livro de crônicas, um livro autobiográfico, uma edição de um programa do SBT, três edições de um quadro exibido em um programa da Rede Globo e uma edição de um programa da TV Brasil. Para estudar esse córpus, traçou-se por objetivo: 1) investigar a constituição dos papéis actanciais, temáticos e patêmicos do ator homem “do lar” e identificar a(s) forma(s) de vida por ele assumida(s) e/ou a ele atribuída(s) nos diferentes textos selecionados; 2) verificar quais as práticas semióticas (“femininas”) desempenhadas pelo ator homem “do lar” e analisar as estratégias enunciativas empregadas na legitimação discursiva dessas práticas e desse ator; 3) compreender como os diferentes enunciadores convocam os valores da moral que regem os comportamentos femininos e masculinos na sociedade brasileira: como tais valores são realizados, recuperando, assim, o “imaginário cultural” dessa sociedade, ou potencializados, dando lugar à manifestação de novos valores e de novas formas de vida. Como referencial teórico-metodológico adotou-se a semiótica francesa, com enfoque nos conceitos de “papel”, “ator”, “prática semiótica”, “forma de vida” e “práxis enunciativa”. Desse modo, verificou-se que, apesar de modalizado de forma distinta em cada um dos textos analisados, o ator homem “do lar” desempenha necessariamente os papéis temáticos “dono de casa”, “pai” e “marido” e, em muitos casos, um papel patêmico concebido por meio da manifestação da “vergonha”. Além disso, verificou-se que o ator desempenha práticas cotidianas relacionadas ao cuidado dos filhos e da casa e que a legitimização discursiva dessas práticas e desse ator é feita, dentre outros, por meio do humor, da confissão e da argumentação. Nessa perspectiva, confirmou-se uma tensão que muitas vezes se estabelece na constituição desse ator e da sua forma de vida, situados ambos entre a revolução e a manutenção dos estereótipos e de um modelo hegemônico de masculinidade. Tudo isso permite concluir que é entre oportunismo e oportunidade que a nova forma de vida emerge nos variados textos/discursos: ora o ator homem “do lar” assume o novo papel e a nova forma de vida mediante uma “visada estratégica”, isto é, em benefício próprio; ora os assume tão-somente de maneira provisória, mediante uma situação circunstancial, como o desemprego; ora os assume de maneira tímida, “secreta”, ainda dominado pela “vergonha”; ora finalmente os assume de maneira comprometida, engajada, abrindo efetivamente espaço para a problematização dos chamados papéis e práticas de gênero, bem como para a eficaz consolidação de uma nova forma de vida doméstica, quiçá desvinculada do ator feminino, livre das valorações negativas e inteiramente aberta a flutuações identitárias não mais definidas exclusivamente pela oposição entre “feminino” e “masculino”.