A liberdade feminina como força criadora: Natália Correia, o matrismo e o pós-matrismo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Furlan, Vivian Leme [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/204349
Resumo: A presente tese tem por finalidade investigar a obra ficcional de Natália Correia (1923-1993), escritora e ativista cultural portuguesa, direcionando a análise ao percurso da literatura de autoria feminina em Portugal e ao conceito de “matrismo”, proposto pela autora. Através do resgate deste termo conceitual, objetiva-se interrogar se esta proposta não seria uma maneira da autora elencar e consolidar avant la lettre uma forma especial e muito particular de feminismo, em que prioriza, sobretudo, a igualdade dos gêneros. A nítida recusa da autoria feminina na história literária é uma marca de nossa cultura machista, que, além de ser responsável por fomentar diversas violências e supressões de direitos, incentiva também a manutenção de um cânone masculino, branco e heterossexual. Por isso, foi relevante refletir, primeiramente, sobre o desenvolvimento e a participação (ou não) feminina na História e suas diferentes correntes políticas e ideológicas que influenciaram os feminismos na Europa, para posteriormente identificar esse espírito na produção literária de mulheres em Portugal e, mais especificamente, no projeto literário-político de Natália Correia. Para tanto, a análise centrar-se-á, em especial, em dois de seus textos de ficção: A Madona (1968) e As Núpcias (1992). Esses títulos, ao tocarem em temas como a liberdade do corpo feminino, o erotismo, a androginia, o incesto, a crítica aos conceitos cristãos cerceadores, e, principalmente, o conceito de matrismo, proposto por Natália Correia, acabam por envolver também propostas de emancipação dos textos de autoria feminina/feminista, tão importantes na ocupação do espaço das mulheres na literatura e na sociedade. Em A Madona, por exemplo, publicado em 1968, em plena ditadura salazarista, é possível identificar, além das especificidades narrativas de nossa autora, os aspectos político-temáticos a respeito da defesa da liberdade sexual do corpo feminino que atravessa o texto, já que a identidade desta madona se distancia totalmente do imaginário histórico da mulher canônica, materna e cristã. Já em As Núpcias, a ideia de Mátria e o próprio matrismo adquirem novos desdobramentos, como um acréscimo àquilo que foi sendo sedimentado por Natália Correia desde a década de 1960, assumindo uma interface transgressora e radical quando defende o incesto como sagrado. Além disso, com o símbolo Frátria, Natália Correia apresenta sua proposta em relação ao que acredita como uma nova expressão da identidade nacional, rasurando a ideia de nação e de família fortalecida em/sobre valores masculinos (Pátria-Pai). Por fim, importa-nos também verificar de que maneira o matrismo avança para os dias atuais a partir da hipótese da existência de um feminismo pós-matrista. Com a entrada do prefixo pós, o matrismo subverte e, ao mesmo tempo, legitima a ideia inicial de nossa autora, com a atualização de seu uso a partir das premissas da quarta onda feminista, das teorias de gênero e a teoria queer mais recentes. Por fim, o termo pós-matrista surge como ferramenta de análise de dois romances da chamada novíssima literatura portuguesa, a saber Trans Iberic Love (2013), de Raquel Freire e O meu amante de domingo (2014), de Alexandra Lucas Coelho.