Primeiro como tragédia, segundo como farsa: escravidão, abolição e democracia racial na literatura de Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins e Ferréz

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Rodrigues, Vladimir Miguel
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/202151
Resumo: A literatura brasileira feita por negras e negros na segunda metade do século XX, como Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus (1960), Cidade de Deus, de Paulo Lins (1997), e Capão Pecado, de Ferréz (2000), expôs a fratura da ideologia da democracia racial, ao mostrar que a população negra e pobre ainda sofre com a miséria, moradias precárias, desemprego e violência policial, características que aproximam a contemporaneidade da época da escravidão. Defendendo a hipótese de que os elementos da escravidão mantêm-se vivos no Brasil mais de 130 anos após a Lei Áurea, este trabalho pretende demonstrar por quais meios estéticos a literatura nacional retratou a condição de vida dos descendentes de escravizados. O estudo procurou responder às questões como: por que temáticas como fome, miséria, violência, desemprego, drogas, estiveram presentes na literatura feita por negras e negros na segunda metade do século XX? Como as obras literárias refutaram a ideologia da democracia racial? Por que Carolina Maria de Jesus e as personagens dos romances de Paulo Lins e Ferréz tiveram inúmeras dificuldades para superar a condição de marginalidade? Por meio da análise materialista e dialética de Marx e Engels (1998) e seus intérpretes, como Gramsci (2006), Lukács (2016), Clóvis Moura (1994), Florestan Fernandes (1977), Carlos Nelson Coutinho (1979) e Antonio Mazzeo (2015), procedeu-se o estudo sobre a história brasileira e sua literatura, destacando autores que registraram a temática da escravidão e suas consequências para o Brasil republicano, com destaque para José de Alencar, Machado de Assis e Lima Barreto. Para as análises literárias de Carolina Maria, Paulo Lins e Ferréz, o estudo levou em consideração o conceito de “vida do espírito”, de Arendt (1995), “razão negra” de Mbembe (2018a) “novo realismo”, de Schollhammer (2009), e “realismo feroz”, de Candido (2011), problematizando, por meio de Rocha (2006), o tipo de dialética presente na literatura contemporânea, a da marginalidade. Concluiu-se que a estrutura material brasileira, latifundiária e desigual, esteve intacta ao longo da história, sempre controlada por setores da elite branca, a qual preservou os seus interesses, constituindo um tipo de Estado bonapartista-colonial-racial, que evitou qualquer tipo de ruptura material que promovesse a ascensão política e econômica dos setores populares e fortaleceu a ideologia da democracia racial. Logo, a população negra e pobre, em geral, foi sendo lançada à marginalidade, convivendo com a fome, desemprego e violência, temas que, consequentemente, foram discutidos nas narrativas de Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins e Ferréz os quais, por meio do diário e do romance refutaram a suposta igualdade racial ao retratarem esse cotidiano de exclusão e opressão das favelas brasileiras em diferentes momentos, da década de 1950 aos anos 2000, deixando explícito que o país ainda guarda uma herança escravista que impede a efetivação de uma verdadeira cidadania para a população negra e pobre.