A cartilha do participante: um modelo de leitura e escrita para a redação no Enem?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Marianna Lima da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/182043
Resumo: O Enem é um exame nacional de grande relevância, já que é, hoje, o maior processo seletivo para o ensino superior do país. Sua Prova de Redação vem chamando atenção da comunidade escolar e da sociedade em geral, por conta do baixíssimo índice de textos avaliados com nota máxima. Embora a banca de correção tenha tornando seus critérios mais exigentes, o Inep publica, anualmente, pouco antes da realização da prova, a Cartilha do Participante, material oficial cujo objetivo é “contribuir para aperfeiçoar” os estudos do aluno-participante do Exame e “tornar ainda mais transparente a metodologia de avaliação da redação e mais evidente o que se espera do participante em cada uma das competências avaliadas” (Inep, 2017), apresentando a Matriz de Referência para Redação do Enem, a Prova de Redação da edição anterior e uma amostra de textos avaliados com a nota 1.000. Com base na perspectiva teórico-metodológica da Análise do Discurso pecheuxtiana, buscamos discutir, nesta pesquisa, de que maneira a Cartilha do Participante instrui/orienta o aluno-participante do Enem a alcançar um modelo de escrita. Para isso, pretendemos (i) depreender as imagens construídas pelo Inep, na Cartilha, sobre si mesmo, seu interlocutor – o aluno-participante do Exame – e seu referente – a Redação no Enem; (ii) pontuar as concepções de leitura/leitor e escrita/escrevente que permeiam esse documento. Nosso olhar para esse material considera o processo discursivo enquanto efeito de sentidos, e não apenas a transmissão de informações. Portanto, considerando a AD como uma teoria de leitura, nos debruçamos aos conceitos de Pêcheux (1969, 1975) de condições de produção, formações ideológicas e discursivas e formações imaginárias e ao que Eni Orlandi (2003, 2012) postula sobre o Discurso Pedagógico (DP) e sobre as noções de leitura/leitor e escrita/escrevente. Interessa-nos o fato de o DP ser um discurso circular, institucionalizado, que se garante, garantindo também a instituição em que se origina e para a qual tende. A partir desses pressupostos teóricometodológicos, buscamos levantar os aspectos estruturais das condições de produção da Cartilha, traçando o percurso do Enem, desde sua criação, como avaliação educacional do ensino médio, até seu formato atual, discutindo os eventos que atravessam as alterações mais relevantes que a Prova Redação sofre ao longo do tempo, até a necessidade da publicação desse material. A partir dessas condições de produção, recortamos algumas sequências discursivas com base em nossos objetivos de pesquisa, que constituem nosso corpus, a partir do qual procuramos relacionar língua, como sistema sintático-lexical passível de jogo, e discursividade, como inscrição de efeitos linguísticos materiais na história. Concluímos que a Cartilha do Participante, ao instruir/orientar o aluno-participante, é atravessada pelo discurso autoritário pedagógico postulado por Orlandi (2003), distanciando os interlocutores e colocando o conhecimento do fato – a Redação no Enem – em segundo plano em relação ao conhecimento do modo de fazer – da Matriz de Referência, estabelecendo a circularidade desse discurso.