Diálogo de saberes ou monólogo do conhecimento?: ação extensionista e políticas de desenvolvimento rural no Vale do Jequitinhonha mineiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Diniz, Raphael Fernando
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/154378
Resumo: Ao longo da segunda metade do século XX, o processo de modernização da base técnica da agricultura brasileira foi orientado à introdução de novas lógicas e racionalidades de produção estreitamente ligadas à ordem hegemônica do capitalismo global. Neste contexto, a produção e difusão de tecnologias e conhecimentos científicos foi viabilizada pela participação ativa de diversos agentes sociais, dentre os quais as instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Tais instituições atuaram na intermediação entre os institutos de pesquisa e inovação tecnológica e os produtores rurais, assim como na execução de políticas agrícolas e de crédito rural elaboradas pelo Estado brasileiro. Neste sentido, buscamos com esta pesquisa analisar, refletir e teorizar sobre o protagonismo destas instituições na construção de um espaço rural cada vez mais racionalizado, artificializado e normatizado no país. Para isso, além de interpretar e discutir esta questão em âmbito nacional, selecionamos como recorte espacial de investigação os municípios pertencentes aos três Territórios da Cidadania (TCs) do Vale do Jequitinhonha-MG. Nesta região, nos dedicamos a analisar os progressos realizados e os desafios enfrentados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado de Minas Gerais (EMATER-MG) em executar políticas públicas de desenvolvimento rural e implementar a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER). Para consecução desses objetivos, além da revisão bibliográfica sobre o tema, objeto, território de estudo e conceitos geográficos fundamentais à pesquisa, realizamos o levantamento, compilação e análise de dados e informações obtidas em fontes primárias e secundárias. A partir desse exercício, defendemos a tese de que, além de uma prática social, a prática extensionista se configura numa prática espacial, que ora se manifesta enquanto heteronomia, a serviço dos atores hegemônicos e da construção do meio técnico-científico-informacional nos espaços rurais, ora busca engendrar estratégias insurgentes, voltadas à autonomia dos sujeitos e grupos sociais subalternizados e à criação de espaços de contiguidade, cooperação e integração solidária. No que concerne à PNATER, demonstramos que, apesar dos progressos realizados entre 2004 e 2014, o Estado ainda não foi capaz de superar problemas históricos da gestão de políticas públicas no Brasil, como a distribuição desigual de recursos financeiros entre as regiões do país e entre os estados que as compõem. Em Minas Gerais e no Vale do Jequitinhonha, depreendemos que o serviço público de ATER visa atender, primordialmente, às diretrizes de política agrícola do Estado e às obrigações assumidas com seus agentes mantenedores, as quais podem ou não corresponder aos anseios e demandas dos sujeitos sociais rurais e aos objetivos e orientações estratégicas da PNATER. A implementação de políticas públicas e programas de governo pelos extensionistas da EMATERMG possibilitou a realização de progressos socioeconômicos e ambientais importantes nesta região, os quais resultaram, em seu conjunto, em contribuições para a evolução dos indicadores econômicos e sociais dos municípios pesquisados. No entanto, ainda persiste uma série de problemas que impedem aos sujeitos sociais rurais a manutenção, aprimoramento e expansão dos projetos implementados, o pleno cumprimento de seus objetivos e a apropriação efetiva de seus benefícios por outros sujeitos sociais. Para a resolução/mitigação destes problemas, propusemos que o esforço coletivo e solidário dos sujeitos sociais do Vale do Jequitinhonha-MG seja subsidiado pela estruturação de redes pensantes, densas e diversificadas, estratégia com considerável potencial de engendrar práticas espaciais insurgentes e instituir espaços de contiguidade, solidariedade, horizontalidade, autonomia e esperança frente a uma realidade marcada por valores como o individualismo, o egoísmo, a competição e a ganância.