Conflitos territoriais na Amazônia: (des)identidades do trabalho e lutas de resistência na área de controle da UHE de Belo Monte (PA)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Gomes e Silva, Ivana de Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/194461
Resumo: O presente estudo apresenta elementos que revelam a magnitude das atrocidades que envolvem a construção do UHE de Belo Monte (UHEBM), na região de Altamira (PA). Lançado em janeiro de 2007, sob efeito dos bons resultados da economia do primeiro mandato de Lula, o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, se caracterizou por ações e investimentos em grandes obras de infraestrutura em energia, transportes, incentivo a financiamentos e empréstimos para investimentos, via bancos estatais como Caixa Econômica Federal e BNDES, política de incentivos fiscais e tributários. A Usina Hidrelétrica de Belo Monte, apresentada durante os PAC 1 e 2, é um projeto concebido desde o período da ditadura militar, que sofreu forte rejeição da opinião pública pelos danos socioambientais incalculáveis que provocaria em sua primeira versão, denominada UHE Kararaô. A ampla mobilização contrária ao empreendimento teve como ápice o encontro dos povos indígenas do Xingu, em Altamira, ocorrida no ano de 1989. A pesquisa revela que um dos problemas mais graves a se considerar, é que parte significativa dos movimentos sociais, representativos das camadas populares regionais, que estavam organizados em períodos anteriores ao início das obras, e que se expressavam por décadas, favoráveis a modelos sustentáveis de desenvolvimento regional, foi lesada de forma visceral. Historicamente contrários ao empreendimento hidrelétrico na bacia do Rio Xingu, durante a gestão dos governos petistas, movimentos sociais organizados, foram envolvidos e contaminados pela coalisão governista, e a ela se adaptaram de forma autofágica. Sobreviveram organizações populares de base com menor volume, descapitalizadas e marginalizadas pelos grupos hegemônicos, com capilaridade significativas nas alianças externas e fragilizadas em âmbito local. O esvaziamento dos movimentos sociais de base popular foi parcialmente patrocinado por massivas campanhas de criminalização da resistência, por parte dos grupos favoráveis ao empreendimento. O movimento apoiador do empreendimento hidrelétrico na década de 2010, passou a ser composto não apenas por corporações e grupos empresariais, mas também por lideranças cooptadas pelo discurso “chapa branca”, signatários do governo, que abandonaram seus ideais anti-sistema, como os princípios do desenvolvimento sustentável regional. O paradoxo nessa diáspora, levou a população a testemunhar posicionamentos de trabalhadores atingidos diretamente pela obra, por se encontrarem nas cotas de inundação do lago, argumentando em favor do empreendimento, alegando que acompanhavam a ‘marcha do progresso’, da geração de emprego e renda, aceitando pífias ofertas de indenização em troca da aceitação de seus desterreamentos. No mesmo lócus, alguns de seus vizinhos e companheiros de lutas, com perfil socioeconômico semelhante, se contrapunham vigorosamente e denunciavam publicamente inúmeros desrespeitos aos direitos das populações atingidas, visíveis em acordos redigidos pelas corporações do empreendimento, que lesavam as comunidades originárias, tribos indígenas, comunidades ribeirinhas, pescadores, trabalhadores rurais e urbanos em geral. As iniciativas do Estado, encaminhadas pelo governo, nesse contexto, são analisadas como expressão da servilidade ao capital, que prioriza os intentos deste e desconsidera, reduz e degrada os seres humanos, considerando-os como meros custos de produção. A dessolidarização de classe, é percebida como a consequência mais trágica, em um contexto de destruição socioambiental crescente.