Saúde mental de trabalhadores de saúde no contexto da pandemia da covid-19. Estudo de caso na atenção primária à saúde no interior paulista.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Miras, Jéssica Beatriz Serodio
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/236167
Resumo: As novas formas de acumulação flexível e da hegemonia neoliberal trouxeram diversas consequências para as relações e as condições de trabalho. O setor de saúde, apesar de possuir particularidades, também é afetado, incluindo a Atenção Primária à Saúde (APS). Neste contexto, as novas condições laborais, com alta demanda, exigências excessivas por metas e produtividade e escassez da força de trabalho, levam à precarização do serviço e, consequentemente, ao sofrimento mental dos trabalhadores. Soma-se a este cenário os impactos decorrentes da pandemia da covid-19, que agravam as condições de saúde destes profissionais. Assim, o estudo em questão teve por objetivo compreender as cargas e desgastes psíquicos decorrentes do trabalho na APS no contexto da pandemia da covid-19, conforme a vivência de trabalhadores da rede municipal de saúde de Botucatu (SP). Para a coleta de dados utilizou-se de entrevistas semiestruturadas individuais, reunindo trabalhadores de unidades de saúde do modelo tradicional e de saúde da família. Optou-se por realizar a pesquisa com trabalhadores de saúde das diversas funções existentes na equipe. Da análise emergiram seis núcleos de significação, a saber: a) Tudo mudou! “É virado no avesso o serviço nosso” - a pandemia impõe diversas mudanças na organização do trabalho o que alia-se às incertezas em relação à covid-19 e todas as transformações na vida cotidiana; b) Condições adversas: “eles querem o seu máximo” - as condições de trabalho precarizadas na saúde são anteriores à pandemia e se exacerbam na situação de excepcionalidade; c) Difíceis relações de cuidado: “não entende que você tá tentando proteger” - o relacionamento com os usuários dos serviços é permeado por desconfianças e violências; d) “Você jura ser fiel à sua profissão”: compromisso em primeiro lugar – o comprometimento com a profissão em detrimento da própria saúde; e) Consequências à saúde do trabalhador: o trabalho em situação de pandemia e os impactos ao corpo e mente dos trabalhadores; f) Solidariedade e trabalho em equipe: possibilidades de resistência em meio à precarização social e do trabalho. Esta pesquisa revela que as condições laborais precarizadas no âmbito da saúde já ocorriam anteriormente à situação excepcional abordada, com impactos na saúde dos trabalhadores; contudo, a pandemia intensifica o contexto já dificultoso, com consequências adicionais à saúde dos mesmos. Indica também a necessidade de mais estudos relacionados à saúde mental dos profissionais da saúde, sobretudo em um contexto de desmonte de políticas públicas. Cabe salientar, contudo, a importância da manutenção de uma participação social ativa e do fortalecimento de espaços coletivos, para que seja possível resistir, preservar e reconquistar direitos sociais e trabalhistas. Portanto, espera-se que os resultados da pesquisa contribuam para estratégias de enfrentamento das condições e relações de trabalho, bem como para possíveis intervenções que possam minimizar ou prevenir consequências à saúde dos trabalhadores em situações semelhantes à analisada.