Diários de Carolina Maria de Jesus: análise dialógica da construção de um falar de si

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Ferreira, Thainá Rosa Helena Garcia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/252605
https://lattes.cnpq.br/6931504524079694
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo analisar as obras Quarto de despejo: diário de uma favelada e Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de Carolina Maria de Jesus, para examinar como o eu que assume a autoria do enunciado fala de si e para observar as marcas do gênero que constituem as obras, decorrentes da linguagem intimista atrelada ao gênero diário. Outrossim, também se buscou, ainda que secundariamente, analisar os impactos editoriais, nas obras, promovidos pelo jornalista Audálio Dantas, em especial no primeiro livro citado, comparando com a segunda obra, na qual a autora gozou de maior liberdade editorial. Para alcançar os objetivos delineados, adotaram-se, como fundamentos teóricos, as contribuições de Bakhtim e de seu Círculo acerca dos conceitos de gêneros do discurso, estrutura composicional, conteúdo temático, estilo, enunciado, diálogo, tendo se revelado possível observar, com esteio em tais elementos, a escrita de Carolina, a sua forma de expressar, seu olhar crítico, suas escolhas lexicais. Relativamente aos estudos dos gêneros de discurso, foi possível delimitar os elementos circunscritos ao gênero diário. Além disso, também se visou delinear especificidades que tornaram as obras e seu estilo únicos, com uma escrita crítica e ácida, denunciando preconceitos raciais e sociais sofridos. O desenvolvimento dos objetivos propostos pressupôs a seleção de trechos de ambas as obras, incluindo a realização de aposição de fac-símiles e análise comparativa entre trechos originais e aqueles objetos de publicação. Constatou-se, assim, que por meio de uma escrita simples, mas com um alto nível de complexidade e espírito crítico, somando-se às escolhas lexicais, a autora instituiu um estilo próprio de expressão. Primeiramente, ela escreve sobre si para si (observando a obra Quarto de despejo, especificamente os escritos do ano de 1955, momento em que a autora ainda não tinha o contato com o jornalista) e, em sequência, escreve de si para o outro com a intenção de publicar seus escritos e mostrar a todos a sua realidade de vida, constatação que se denota de escritos em Quarto de Despejo a partir do ano de 1958, e da obra Casa de Alvenaria. Analisou-se, destarte, como foi construída a escrita de Carolina, primeiro com a influência de Audálio, que realizava interferências editoriais, e, posteriormente, com uma liberdade maior, usando uma escrita pesada para fazer as denúncias sociais. Encontrou-se, na análise, a heteroglossia, referida por Bakhtin e o Círculo, que evidencia a coexistência de várias vozes sociais em um discurso. Com a pesquisa, espera-se ter contribuído para os estudos acerca dos gêneros discursivos e dos estudos dialógicos, uma vez que se buscou compreender como a autora desenvolveu o falar de si para si e falar de si para o outro.