A "cultura do cancelamento" como tema de sociologia no ensino médio

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Martins, Tamires de Assis Lima
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/243060
Resumo: O objeto desta pesquisa é a “cultura do cancelamento”, um fenômeno contemporâneo, apresentado aqui como tema de sociologia no Ensino Médio. O objetivo é elaborar o conceito e situar as bases econômicas e sociais do fato, situando-o na sociedade em rede, permitindo, a partir daí, que professores e alunos discutam livremente a respeito das preocupações que surgem quando refletem acerca da “cultura do cancelamento”. A proposta é que a inclusão do tema nas aulas de sociologia se justifica pela necessidade de motivar os jovens a se engajarem e participarem ativamente, como protagonistas, na construção do conhecimento, respeitando-os como sujeitos históricos que possuem referências culturais e trajetórias de vidas próprias, distintas em muitos aspectos das preocupações do mundo adulto. Ressalta-se que um dos desafios que os professores enfrentam nas escolas de ensino médio atualmente é o desinteresse dos jovens pelos temas curriculares consolidados, como se estes não fizessem sentido para suas vidas no presente. A ideia é estabelecer a “cultura do cancelamento” como tema de aula próximo à condição juvenil, às culturas juvenis e ao mundo do entretenimento, iniciativa que exemplifica uma estratégia do professor para mitigar os conflitos existentes entre as juventudes e a escola. Em relação à metodologia, desenvolve-se revisão bibliográfica das conceituações da “cultura do cancelamento” e aprofunda-se o entendimento, mediante análise de conteúdo de comentários no twitter em que os internautas expressaram suas leituras a respeito da atuação das empresas Gerdau e Fiat no caso Maurício Souza. Como resultados, constata-se que a “cultura do cancelamento” é definida em três níveis. Em perspectiva centrada no ato sancionatório, o “cancelamento” é definido pelos seus resultados na vida do sujeito “cancelado”, ou seja, o propósito do “cancelamento” é reduzir ao mínimo o capital simbólico do sujeito “cancelado”, com consequências negativas em sua vida econômica e profissional. Em segundo nível, as transformações sociais e econômicas que tornam possível a “cultura do cancelamento” referem-se às novas tecnologias de comunicação em rede, estas que permitem registrar e compartilhar comportamentos com enorme rapidez e facilidade, o que possibilita que as condutas sociais em face de valores e identidades socialmente relevantes sejam tratadas como valores de mercado pelos agentes econômicos. Empresas que assumem com seu engajamento, na opinião de parte dos internautas, o papel de agentes transformadores da realidade social e política, em substituição às políticas públicas e ao papel do Estado, como retrato do ceticismo em relação às instituições estatais, sendo este o significado da “cultura do cancelamento” em terceiro nível de análise. Por fim, em sua relação com mudanças econômicas e sociais recentes, a “cultura do cancelamento” é um dos instrumentos que colaboram para reunir a audiência tendencialmente dispersa na era da internet, o que interessa a grupos de comunicação, aos formadores de opinião, a influenciadores digitais, a celebridades tradicionais e às estratégias de publicidade do setor empresarial.