Marias (im) possíveis nas tramas discursivas da rede de atendimento e enfrentamento à violência

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Alves, Eliada Mayara Cardoso da Silva
Orientador(a): Voss, Dulce Mari da Silva
Banca de defesa: Voss, Dulce Mari da Silva, Cantini, Adriana Hartemink, Jacondino, Eduardo Nunes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pampa
Programa de Pós-Graduação: Mestrado Acadêmico em Ensino
Departamento: Campus Bagé
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://dspace.unipampa.edu.br:8080/jspui/handle/riu/5686
Resumo: Esta Dissertação apresenta um estudo de caso sobre a rede de atendimento e enfrentamento à violência contra mulheres, baseado na atuação da Coordenadoria Municipal da Mulher na Cidade de Bagé/RS, no ano de 2019, quando prestei atendimento jurídico às mulheres em situação de violência. A recorrência dos atendimentos suscitou em mim o desejo de investigar as condições históricas, políticas, sociais e culturais em que emergem, nas sociedades modernas e contemporâneas, práticas discursivas e não-discursivas que produzem o sujeito mulher “vítima de violência”. A análise que fiz dos documentos feitos sobre os atendimentos, permitiram lançar um olhar mais detalhado para os casos de violência, em âmbito local, e traçar relações entre marcadores de gênero, raça, classe social, idade, condições de moradia e escolaridade que compõem a complexidade de fatores envolvidos na produção da violência. As entrevistas com profissionais que, assim como eu, atuavam na rede, possibilitaram a percepção dos efeitos da cultura patriarcal e heteronormativa na captura dos corpos de mulheres e as relações de poder-saber-prazer que as posicionam como sujeitos assujeitadas pelas desigualdades de gênero. Na casa abrigo, encontrei mulheres atendidas e protegidas em virtude da violência extrema, desde a infância, e que se manteve nos relacionamentos afetivos. A análise fundamentada nas teorias pós-estruturalistas leva-me a entender que a violência está engendrada na vida social e na cultura das sociedades ocidentais. Os dispositivos institucionais do Estado liberal, como o poder-saber-judiciário, fortalecem a distribuição dos sujeitos em categorias binárias – culpados ou vítimas. As leis definem o sujeito mulher como “vítima de violência” e tutelada à proteção, mantendo a posição de subalternidade fabricada pelo patriarcado que educa mulheres a permanecerem no espaço doméstico, presas à condição de esposa e mãe. Patriarcado reforçado pelos discursos que circulam na rede, projetando a responsabilização da violação dos corpos das mulheres à elas próprias. Enunciação da mulher “vítima de violência” que é uma invenção perversa incapaz de definir mulheres que, de um modo ou de outro, lutam, resistem, mas que também, por muitas vezes, aceitam resignadas as amarras de uma vida precária. Desnaturalizar práticas discursivas e não-discursivas que operam na educação e governo dos corpos e das subjetividades de mulheres em situação de violência, foi a estratégia que guiou esta escrita. Alimentada na coragem de criar devires-mulher e provocar o contágio de forças e potências que nos permitam inventar vidas outras.