Testemunho e corpos bárbaros: a linguagem virilista e a ausência-presença dos textos e das personagens em Second-Class Citzen, Waiting for The Barbarians e Leite Derramado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2025
Autor(a) principal: Freire, Anna Isabel Santos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.unb.br/handle/10482/51891
Resumo: Neste estudo, investigo como a tensão entre a ausência e a presença do corpo, tanto do corpo do texto quanto dos corpos das personagens, revela as estruturas de poder que negam o direito ao testemunho ao “corpo bárbaro” nos romances Second-Class Citizen (1974), de Buchi Emecheta, Waiting for the Barbarians (1980), de J. M. Coetzee, e Leite Derramado (2009), de Chico Buarque. A problemática central é compreender, dentro dessas narrativas, como a predicação, mediada pelo apanágio do mandato de virilidade, estrutura o poder de nomear, violar e testemunhar, e como certos corpos desvirilizados são silenciados, apagados ou excluídos dessa dinâmica. O objetivo principal da pesquisa é explorar como as vozes narrativas, nesses romances, ao lidarem com a tensão entre a ausência e a presença do corpo, desafiam os limites da linguagem, ao abordar a relação entre corpo, testemunho e memória. A análise é sustentada, principalmente, pelas teorias de Denise Ferreira da Silva e Piero Eyben, que expandem a crítica de Jacques Derrida sobre o arquivo, colocando em foco a predicação e a determinação do ser como elementos estruturantes do poder. Hortense Spillers, Saidiya Hartman, Judith Butler, Silvia Federici, Cida Bento, Antonio Bispo e Márcio Seligmann-Silva são alguns dos autores que também dão sustentação a esta pesquisa. A pesquisa destaca que, embora os corpos desvirilizados não se configurem diretamente como testemunhas, as vozes narrativas afirmam a presença e a ausência desses corpos ao revelarem que os registros escritos daquelas narrativas não existem no mundo diegético, pois não foram escritas de fato, ou foram queimadas, apesar de seus rastros persistirem no universo narrado. A metodologia adotada combina análise literária com os conceitos centrais de predicação, corpo e poder, investigando como os narradores, ao deixarem escapar essa tensão entre ausência e presença, revelam as contradições nas estruturas de poder que controlam o arquivo e a memória coletiva. Os resultados apontam que essas narrativas não apenas subvertem as estruturas de poder, mas também oferecem novas formas de resistência e de reconfiguração da identidade, ao dar visibilidade àqueles corpos que são, ao mesmo tempo, ausentes e presentes. O testemunho, nesse contexto, emerge como um ato paradoxal: enquanto legitima o poder, também expõe as violências do controle sobre a memória coletiva. A carne, entendida como corpo político e instrumento de resistência, recusa as imposições da virilidade, transformando-se em um território de produção de conhecimento e possibilitando novas formas de ser e de existir. Este estudo conclui que a literatura analisada transforma o corpo e a carne em espaços de contestação, subvertendo as hierarquias de gênero e as estruturas de poder, reformulando o papel do testemunho como uma prática de resistência que desafia a imposição da virilidade e da memória oficial.