A transferência entre o amor, o desejo e o saber: uma leitura do Seminário VIII de Lacan

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Viana, Lucas Satle Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.unb.br/handle/10482/51683
Resumo: A presente dissertação de mestrado concentra-se na exploração aprofundada do conceito de transferência em Jacques Lacan, com foco central no Seminário VIII, no qual o renomado psicanalista francês aborda de maneira inovadora tal temática, tomando como referência o Banquete de Platão. A obra platônica foi fundamental para esclarecer a estrutura complexa da transferência, em contraste com as interpretações de seus contemporâneos, adeptos da Psicologia do Ego. Estes tendiam a reduzi-la principalmente a fenômenos contratransferenciais, defendendo uma suposta reversibilidade entre as posições de analista e analisante. O objetivo principal é, então, analisar a intrincada relação entre a transferência, o amor, o desejo e o saber, conforme interpretados por Lacan em sua leitura original e não ortodoxa do diálogo platônico, com especial ênfase na interação entre os personagens Sócrates e Alcebíades. O Banquete, ao abordar diretamente o amor e o desejo na sua relação com a falta, proporciona a Lacan um terreno fecundo para investigar a complexa dinâmica da transferência. O conceito de falta revela-se fundamental para alcançar o objetivo proposto neste estudo. Um dos principais resultados dessa dissertação foi a constatação de que o objeto almejado pelo sujeito no desejo, em suas diversas manifestações, nunca corresponde exatamente ao que é encontrado. Essa falta é crucial na dinâmica da relação de objeto na perspectiva psicanalítica, uma vez que a frustração inerente a essa busca confere ao dom um significado mais profundo do que a simples presença ou ausência do objeto em si. O verdadeiro cerne da questão é o amor daquele que é capaz de transformar o objeto em um dom. Assim, há algo além da própria relação amorosa que é essencialmente ausente e só pode ser oferecido enquanto tal. É somente quando algo está ausente no amor, tornando-o incompleto e distinto de uma fusão, que ele pode ocorrer entre dois sujeitos que, por serem indivíduos distintos, nunca poderiam se fundir em um único ser ou desejar exatamente a mesma coisa. O interessante da leitura lacaniana do Banquete é o seu estilo marcado por aparentes contradições, contrastes, ambiguidades, significações não evidentes, e sentidos que não se fecham em uma definição, o que à primeira vista pode causar uma espécie de confusão nos leitores, mas que em contrapartida, é capaz de criar uma rede de significantes onde as ideais são continuamente pensadas e reformuladas. É o que acontece, por exemplo, com o termo agalma retirado do Banquete, que é comparado ao conceito de objeto parcial, o objeto do desejo em torno do qual gira a transferência clínica. Ao abordar a intricada interrelação entre transferência, amor, desejo e saber esta dissertação busca fornecer uma compreensão mais profunda da contribuição lacaniana para a teoria psicanalítica. Além disso, propõe uma reflexão crítica sobre as aparentes contradições e inovações introduzidas por Lacan, desafiando paradigmas estabelecidos e contribuindo para uma compreensão mais abrangente da complexidade clínica que envolve a transferência, assim como o papel do analista e o seu desejo.