Sobre ter e não faltar : segurança alimentar e territorialidade Kalunga no Cerrado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Fernandes, Cecilia Ricardo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.unb.br/handle/10482/35762
Resumo: Este trabalho apresenta uma análise e reflexão das diferentes estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) desenvolvidas pelas famílias da comunidade quilombola Kalunga, divididas entre a região nordeste do estado de Goiás e o sul do Tocantins. Em um cenário de políticas agroambientais homogeneizadoras, os sistemas agrícolas tradicionais têm enfrentado o desafio de manterem suas práticas e sua agrobiodiversidade a partir de suas próprias dinâmicas espaço-temporais. Além disso, as escalas utilizadas para avaliação da segurança alimentar dessas comunidades costumam enfatizar aspectos aquisitivos em uma escala doméstica, desconsiderando a importância da produção para autoconsumo e das redes alimentares ao longo do território. Utilizando uma abordagem qualitativa e os procedimentos de observação participante, entrevista semiestruturada, mapeamento participativo em diferentes escalas de análise, buscou-se obter informações que permitissem uma compreensão das práticas produtivas e alimentares localmente desenvolvidas. Foram mapeadas 950 residências e 2.120 roças, distribuídas ao longo de 12 microrregiões. Das 128 famílias, 90 foram entrevistadas de forma semiestruturada, enquanto as outras 38 famílias foram entrevistadas a partir da metodologia aberta. Observou-se que a comunidade estrutura sua segurança alimentar a partir de estratégias pluriativas em uma ocupação multilocal do território, onde a diversidade agrícola, as redes de troca de sementes e o fluxo de alimentos têm fundamental importância. Encontramos que as roças resguardam 19% da agrobiodiversidade total identificada (85 espécies), enquanto que os quintais correspondem a 53% e os sertões a 20% dela. Contudo, apesar dos quintais apresentarem uma diversidade específica maior, foi nas roças que encontramos a maior diversidade intraespecífica onde, das 221 variedades identificadas, 18 eram de mandioca, 16 de arroz, 8 de milho, 17 de feijão, 7 de aboboras e 17 de bananas. Também observamos que o programa Bolsa Família auxilia o trabalhador rural a continuar suas atividades voltadas para o autoconsumo sem comprometer a segurança alimentar da sua família, a partir do aumento do poder de escolha das mesmas sobre os seus produtos agroextrativistas. Assim, podemos dizer que, mesmo frente a diversos fatores de influência (des)estruturadores, a comunidade tem ressignificado suas dinâmicas, em uma estratégia que combina inovações sociotécnicas, renovação das dinâmicas de mobilidade e a luta constante da população em prol das suas tradições e relações territoriais.